terça-feira, 31 de julho de 2012

Maneiras que vou de férias. Sexta feira é o meu ultimo dia de combate aqui, e lá vou eu para 3 semanas de puro descanso (dentro do género de mãe de um Rabanetes tresloucado de 17 meses).
E vou para a praia. E vou dormir sestas. E vou tratar do meu jardim. E vou namorar. E vou beber vinho branco à desgarrada. E imperiais também. E vou namorar. E vou curtir as piadinhas do meu miúdo que está uma coisa que não se aguenta de espevitado.
E é isto.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

EDP - FDP

Têm acontecido tantas coisas que nem sei bem por onde começar. Então. Àlaber. O meu besnico tem passado os últimos fins de semanas doente. É uma alegria, chega-se a Sexta-Feira e pimbas, ele é vomitado, caganeira ou febre sem mais nada. Depois tive um casamentaço de uma prima que mora nas terras de nuestros hermanos, e os ama de tal forma que casou com um. Até aqui tudo bonito. Acrescenta-se férias em debandada e um enchoval de trabalho que até andei de lado. Tudo bem. Normal. Só que a mãezinha resolveu ficar inutilizada com uma cena qualquer muscular. Pronto. Estou cansada sim, e ligeiramente mal humorada. A casa está feita num oito, o trabalho cai que nem tordos e tenho de sair disparada todos os dias do escritório porque mamãe não pode pegar no miúdo. Ok, até aqui tudo fixe, é chato e tal, mas é a vida. Vai daí a barraca abana. Abana com a violência de um furacão americano. Uma pessoa vem na correria habitual da manhã (sempre atrasada, sempre a correr) ligeiramente enraivecida porque se esqueceu dos cigarros em casa e a minha dose de nitcotina matinal é sagrada para não cometer assassinatos à desgarrada. Abro a carteira para comprar um maço. No money. Foda-se. Caixa multibanco mais próxima. Velha cheia de sacos a fazer 300125 operações, devagar devagarinho, sem qualquer tipo de pressa. Bato o pé furiosamente no chão. Caraças preciso de um cigarro. A velha lá despacha os pagamentos do ano. Tento levantar dinheiro. O seu saldo não lhe permite não sei quê não sei que mais. Oh que caraças. Faço transferência da conta poupança para a ordem. Tento levantar novamente. Mensagem humilhante de novo com ecrã cor de laranja para toda a gente ver. (Reparo na fila atrás de mim para levantar dinheiro a aumentar, e eu já pareço a velha a carregar furiosamente em todas a opções do multibanco). Vejo o saldo. Fico tonta. Ai que vou cair. - 946 EUROS. MENOS. MENOS.
Saio que nem leoa atrás da cria da estação rumo ao primeiro banco com internet banking disponível. Entro desvairada. Ohquecaraças preciso TANTO de um cigarro. Carrego furiosamente nas opções do internet banking. Vejo lá em negativos mas não vejo o movimento que gerou aquela anormalidade daquele saldo. O Gerente do balcão dá-se conta da minha aflição e pergunta se preciso de ajuda. Digo que sim pelamordedeus que tenho mil euros negativos na conta. Ele tecla e retecla milhares de números e diz-me: "Ah pois, tem aqui um movimento para cair na conta de 1046 euros". E eu: MILEQUARENTAESEIS????? Como assim???????" e ele sossegadamente "EDP".
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Queridos senhores da EDP. Ide todos comer na real peidola. Com os melhores cumprimentos, Tata 1046 euros mais miserável.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O meu filho para além do "MAU MAU MAU" que diz quando lhe ralhamos, já dá ordens ao bujix. Aponta para baixo, bate furiosamente no chão com o indicador direito bem espetado e guincha "DÊTESSSE... DÊÊÊTESSSE" até o bicho se deitar. Em obedecendo o miúdo bate palminhas e rodopia, em ignorando a ordem furiosa do miudo, o canito leva com o seu MAUMAUMAU de sobrolho erguido e mão no ar...
O miúdo é um lider. Medo.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Update viroses e afins

Quinta Feira. Chego mais rabanadas a casa. Banho etc e tal, jantar. Já vos disse que o miudo é uma verdadeira besta a comer? Pois é, excepto solidos é mandrião a mastigar. Mas continuando. Massinhas com ovo mexido, sopa de feijão verde que o puto adora. Primeira colher, cospe e diz-me que não com aquela cabeça amorosa carregada de caracóis a cheirar a água de colónia. Psht, digo eu armada em educadora, abre a boca. Uma colher. Outra colher. Agora ovo. O miúdo torce-se numa birra às vezes comum àquela hora. Mais uma colher. Mais outra. Vai daí o miúdo arregala os olhos, abre a boca a atira-me um jacto de vomitado com uma projecção que eu apenas achava possivel em filmes de terror estilo exorcista. EH MIUDO! Abre a boca e novo jacto. BRASA, digo eu em pânico. Ele geme assustado com aquele fenómeno sobrenatural e atira-me com um novo jacto. Chora assustado. Eu quase que choro também, fogo miudo, mas onde é que tinhas isto tudo???
Gastroentrite confirmada com nova dose de vomitado sexta as 3 da manha. E diarreia nos dias seguintes. Confirmação duplamente chekada quando me apanha a mim também. Dois dias em casa e menos 3 kilos no bucho...

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Ando numa onda meia... meia quê?... não é neura, nada disso, mas tambem não é feliz... Porque quando estou assim euforicamente feliz desato a viver, desato a respirar, a cheirar, a mexer. Mas ultimamente não é isso que sinto, é mais como se estivesse a pairar sobre mim mesma, mais como se estivesse a ver-me feliz lá em baixo, e eu cá em cima, transparente e flutuante, sorrindo com um orgulho de missão cumprida, contemplando.... é isso, ando numa onda contemplativa.
As minhas noites têm sido carregadas de sonhos indecifráveis, com perdas, achados, lágrimas, escuridão e luz. Acordo pesada e exausta, não sei bem o que é, como se tivesse dançado até as 5 da manhã, entornada em gin's e tabaco. Mas não, o mais tardar as 23 já estou ferrada, com creme hidratante espalhado, pijama vestido, roupa para o dia seguinte disposta na comoda.
Venho de comboio e dou por mim sem saber onde estou, porque tudo me distrai e me eleva a imaginação. Porque reparei naquela janela aberta com as cortinas gastas ao vento, e a senhora gorda de roupão de flanela a estender o pano amarelo da loiça. E vejo-lhe a vida toda num lápice, sozinha e rabujenta, furiosa com a sujidão estando ela mesma imunda. Um filho que trabalha nas obras, pai de um a menina mulata que não assume mas visita todos os dias. Um marido doente na cama a precisar dela para respirar, depois de uma vida inteira resolvendo desagrados à chapada,e ela agora suspirando às vizinhas a moleza do senhor, coitado do meu Acácio tão forte que era e agora faço-lhe tudo, num deleite satisfeito com o poder que agora tem, nunca servindo o chá com açucar como o velho gosta.  E lá está ela furiosamente bantendo o pano amarelo e velho da cozinha, porque ontem o filho o deixou no lava-loiças gorduroso e ela odeia ter o pano da cozinha sujo.
Olha, já estou no Rossio.
Está na hora de trabalhar.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Escutam-se as trivialidades da Vida. Moinha às vezes pesada do dia a dia que se repete. Chegar a casa, arejar os quartos, dar colo ao miúdo enquanto o despimos para o banho, lavar a banheira, fazer as camas, lavar as chávenas do pequeno almoço. Não chores bebé, atirei o pau ao gato-to-to, telefone que toca, favores pendentes, palavras perdidas. Correria, cansaço, correria.
Chega o marido, mais cedo que o previsto, lufada de ar fresco na casa, alívio, posso preparar as coisas sem ter de carregar o besnico na anca.
Miúdo na cama, sagres aberta, queijo e pão na mesa. Está tudo mal. Cabrão do Relvas, e este país? Impostos que sobem, empresas que fecham, talentos desperdiçados, ordenados fora horas. Medo da incógnita, do que lá vem, banhadas sucessivas de "e se's" que nunca mais acabam. Incerteza. Medo. Responsabilidade acrescida porque afinal, o miúdo dorme na cama, está ali, é real, é fruto de nós. Falamos noite dentro, matam-se angústias, confessam-se intimidades, pequenos medos, orgulhos feridos... Alívio. Já é noite. Temos 6 sagres vazias a nossa frente. Calamo-nos por uns segundos. Fecho os olhos... Ar fresco, cigarras e grilos, e lá ao fundo ouve-se o mar. Abro os olhos e é real este momento, estás ali ao meu lado, impões a tua presença na minha, somos um só, um projecto desenhado num miúdo que dorme no quarto. A vida é isto afinal. Pois é, respondes-me sem falar. E é tão boa...

terça-feira, 3 de julho de 2012

Hoje estou chateada. Pronto. Acordei de manhã e decidi que estou chateada. Porque me custou acordar, porque perdi o comboio e o comboio que apanhei ainda resolveu atrasar-se. Porque tenho nódoas na camisa, porque a merda do ordenado já está praticamente assassinado, porque não encontro uma coisa que preciso, porque estou chateada, pronto, estou fodida hoje.
E então levo literalmente um estalada na fronha. Injusta. Ingrata. Picuinhas de merda. Vida tão maravilhosa que tens, miúdo saudável e feliz, casa com jardim. Estúpida, digo a mim mesma olhando-me no espelho do trabalho. Estúpida de merda é o que és. Hoje mesmo vou ver o que posso fazer. Porque na vida há casos que nos placam com violência, arrebatam-nos a fé, suscitam-nos a dúvida e a gratidão, fazendo-nos ajoelhar e agradecer a sorte que temos por termos dramas da tanga como nódoas na camisa...

Tens um mano na tua barriga?" - entrou de rompante pelo meu quarto. A mãe, internada no quarto ao lado, tentou demove-la. " Não incomodes a senhora! Anda cá!". Mas ela continuava a olhar para mim, de pé, à beira da minha cama de hospital. Olhos azuis, cabelo louro, 4 anos de gente.

"Também tens um mano na barriga?"- insistia. Pego-a ao colo para se sentar aos pés da cama, leve que nem uma pluma. "Cuidado com o meu cateter!". A mãe, pálida e com ar gasto, grávida do mesmo tempo gestacional que eu, a contar-me da leucemia da filha, dos tratamentos de quimioterapia, da gravidez que pode ser uma esperança de vida, de mais vida ainda, o verdadeiro milagre da vida, para a filha que já vive. Das possibilidades de compatibilidade do novo bebé, que entretanto ganha pouco peso no útero, fruto do sistema nervoso da mãe que, internada, não acompanha pela primeira vez, em dois anos e meio, o ciclo de quimioterapia da filha.
"Tens um Bobi?"- fita-me, a pequena, de olhos pregados no suporte com rodas que me eleva o soro. E a mãe sorri, gasta e cansada, velha no pico dos seus 26 anos, a aguardar um milagre que são dois, agora. O bebé só tem um rim mas não lhe importa. A doença da filha ensinou-a a racionalizar a realidade. "Vive-se só com um rim, eu quero é que ele nasça bem, mesmo que não seja compatível,. Quero- os aos dois, bem! Percebe-me, não é?" Percebo tão bem.


E a menina canta- me aos pés. Elevo-a no elevador da cama, fica alta no cimo do colchão elevado. "Vou tocar no sol!"- e não parece doente, enquanto escorrega pelas minhas pernas, se ri às gargalhadas e folheia um livro que me ofereceu uma leitora deste blog.
A mãe a insistir que me deixe sossegada, sorriso exausto. Está desempregada, " ninguém dá trabalho a uma mulher que tem que faltar uma semana por mês para acompanhar a filha na quimioterapia". E, agora, internada. O marido teve que meter baixa para a substituir- "o dinheiro da baixa não vem logo no mês em que gozamos a baixa, este mês nao sei como irá ser". A filha, tagarela, dá gargalhadas e, por um momento, o sorriso abre-se, alheio aos problemas. Acaricia a barriga, como que a regar o crescimento do bebé que aí vem.
Falamos dos bebés que esperamos. Chega mámen para a visita, senta a menina ao colo, faz-lhe desenhos a pedido. A mãe elogia o jeito dele para desenhar. Mostro- lhe a fotografia da parede do quarto da Ana, pintada por ele. A menina pergunta se ele lhe pode desenhar uma Kitty na parede. Sorrimos os dois, cúmplices. Hoje toleramos a Kitty. Sim, irá pintá-lá, logo que a mãe regresse a casa. A menina salta de alegria.
Chega o jantar, a mãe e a menina recolhem ao seu quarto, não sem antes a pequena insistir: "Tens um mano na barriga?".
Lembro- me das discussões que temos tido acerca da preservação de células estaminais. Banco Público ou empresa privada? Se colocarmos no Banco Publico e aparecer alguém que precise, a nossa filha fica sem as suas células disponíveis. No Privado as células serão sempre guardadas para ela.
E a menina ali ao lado, a precisar de um transplante de medula. Não pode haver egoísmo na humanidade. Nem umbiguismo. Se a nossa filha fosse compatível, não hesitaríamos um segundo, sabemo-lo com o olhar, as palavras não são precisas.
E, finalmente, respondo "Sim, tenho uma (m)Ana na barriga!". Porque todos os bebés deveriam ser irmãos da menina.A minha sê-lo-á."
Mais informações de como ajudar em:http://quadripolaridades2.blogspot.pt/2012/07/tens-um-mano-na-barriga.html.