quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Estou aqui no comboio, praticamente de madrugada. Que merda isto de ser suburbana. Aqui vou eu, para mais um dia de trabalho num emprego cada vez mais incerto. Que merda isto da crise. E vou cansada porque, que merda, ainda acordo tantas vezes à noite com o meu filho mais novo. Entretanto, oh que merda, já não tenho fraldas, nem leite, nem detergente da loiça. Merda isto de ter ainda de ir fazer compras. Num final de dia assustadoramente galopante, porque, que merda, chego tardíssimo a casa e os meu filhos têm de ficar tanto tempo na escola. Que merda.
Aqui vou eu. Na merda do comboio. Com preocupações de merda na cabeça. Imagino que seja precisamente esta merda que se passe na merda da cabeça de quem governa este continente de merda. É muito mais fácil ocupar a mente com prioridades de merda. Enquanto aqui, ao meu lado, ao nosso lado, aqui mesmo à mão de semear, este menino que podia ser nosso, que podia ser o meu caracóis de sol, o meu pobre menino que tanto sofre um dia inteiro numa escola à beira mar, morre a tentar uma vida melhor.