sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Deito-me sempre cedo. Tenho o corpo dorido pela alma.
O sono normalmente tem um efeito devastador em mim. Baralha-me as ideias, chocalha-me sentimentos, toda eu escorrego entre aquilo que é racional e emocional, trocando um por outro a todos a cada virar dos segundos.

Ontem deitei-me, como é habitual, (muito) cedo, e veio comigo a minha primeira obra de arte, em vias de fazer 5 anos. Não sei explicar o efeito que uma mão gorducha cheia de anos tem em mim, mas é assim brutal. Agora sem sesta, ele adormece em mais ou menos 2 segundos.
Fiquei a olhar um bocadinho para ele, o meu loiro bonzinho, ali na calma do lar, na segurança que a minha cama lhe transmite. Ao menos isso. Sei que dorme sossegado, deve sonhar com spider mans, corridas nos pinhais, tablets cheios de jogos e sacos carregados de coijasboas. Fecho então os olhos, e passa na minha cabeça o dia confuso quer vivi. Emails apressados. Trocas de mensagens em alvoroço. Mãe com dores de costas e eu sem tempo para a falta de tempo.

Abro novamente os olhos. Ao menos isso. Ele dorme sossegado. Consigo até ver-lhe um sorriso, aposto que está a comer coijasboas mascarado de spider man.




terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Eu por norma sou refilona. Acho que é fácil perceber isso. Ás vezes zango-me comigo mesma, não é muito justo que com a minha sorte eu me ponha a refilar porque o miúdo não dorme, o despertador não tocou, ou o raio que o valha. Mas refilo imenso. Tudo é dramático em mim.
Outras vezes acho que é essa minha característica que me salva de mim mesma, do caos que às vezes tenho instalado na alma. Atiro cá para fora em palavrões e pronto, estou limpa.
Os meus filhos estão a crescer a uma velocidade estonteante. De hoje a uma semana o meu caracóis de sol faz 5 anos, e temos tido ultimamente novos desafios nesta corrida alucinante que é a de educar (enquanto amamos, trabalhamos, corremos contra o tempo).
O meu pequenino gigante diz pópó, e se lhe perguntam como faz a mãe ele imita o som de uma vaca. Um ano e meio e já me chama de vaca, mas é amoroso, dá vontade de lhe dar beijos na boca a toda a hora. 
Depois há as notícias, essas filhas da puta que nos dão socos no estômago logo pela manhã. E eu já não me queixo. Só anseio de forma animalesca que tudo fique assim, nada mude: um gordão que me chama de vaca com grunhos alegres,  um caracóis de sol que me beija na boca mesmo quando está de castigo. Fiquem assim, felizes para sempre está bem?


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Reapaixonada

Ás vezes ponho-me a pensar em questões altamente profundas (por norma a ouvir chopin, tipo intelectualoide suburbana, no comboio, vejo os subúrbios tristes e cinzentos, as pessoas cansadas e com pressa). 
Vejo com alguma nostalgia que a norma não é a alegria, e isso aflige-me, não por mim, que até consigo perceber o sublime do triste, mas porque achei que devia meter duas pessoas neste mundo. Ainda por cima, vejam-me bem o azar, calhou-me ser a mãe das duas pessoas mais importantes do universo, e eu para eles não espero mais do que felicidade assim tipo todos os microsegundos da vida deles. 
Enfim, lá está o meu útero à estalada com o meu cérebro, não vinha para aqui falar dos meus (absolutamente espetaculares e fenomenais) filhos. Vinhas antes tentar meter em palavras uma coisa que senti há bocadinho quando fechei os olhos num pequeno excerto de música logo após passar a ic19, isto num fim de tarde tragicamente cinzento. Vinha tentar fazer-vos advinhar este soluço que não sai, conseguem ver? Não?
Sou eu, reapaixonada. Pela minha casa, pela minha pessoa, pelos meus amigos, pelos churrascos com imperiais, pelo meu adónis em vésperas de dia dos namorados. 
Isto é lixado, isto leia-se a fórmula da felicidade. Os dias repetem-se, nós queixamo-nos porque não há dinheiro, há cansaço, está a chover, enfim, porque sim. E o tempo passa sabem? Por isso, é estar atento, estas coisas boas vêm de fininho, assim de surra, a música é linda e mexe cá dentro, o almoço sabe-nos particularmente bem, o telefonema da manhã com o marido foi especial. Se não somos inteligentes... Mentira, não é inteligentes, a inteligência às vezes é triste como a merda. Se não somos agradecidos, estes momentos são esborrachados pelo dia a dia, que passa igual a ontem e ao amanhã. E assim quebro a norma, só um bocadinho, e não sou triste. Sou momentaneamente incrivelmente sortuda e reapaixonada.

(Foda -se passei a estação, estou atrasada, tenho de correr mais ainda. Merda.)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Olá, estou viva

Não tenho escrito.
Também não tenho pensado muito. Mentira, até tenho. Ou não, não é bem pensar, acho que tenho sentido cenas, mesmo  buédacenas.
Ando cansada, mas isso não é novidade nenhuma, my middle name is cansada, se bem que chego a roçar a exaustão por vezes. Esta vida às vezes cansa.
Já descobri a missão dos filhos. Os filhos fazem com que de repente um ano pareça uma semana, dantes não era assim, tenho a certeza a-bso-lu-ta. Demorei cerca de 15 anos a fazer a minha licenciatura, mas o meu caracóis de ouro, que nasceu mais ou menos anteontem, faz 5 anos não tarda. Como é possível? Não faço puto de ideia. Aliás, não sei se vos contei mas tenho um recém nascido lá em casa que já come sozinho e tem 7 fileiras de dentes afiados. Não sei como não sou famosa, acontecem coisas transcendentes na minha vida.
À noite, antes de desmaiar na cama, naqueles 4 segundos que antecedem o sono profundo, assalta-me uma perguntar em modo repeat: o que é que te faz feliz? Mas antes de conseguir responder adormeço e entretanto já acordei, tomei banho e estou o escritório a pensar se mandei dodots para a creche do Manuel.
Estão a perceber o que vos digo?...


Enfim.


E a vocês? O que vos faz felizes?
(foto tirada algures em novembro, vejam bem)