quarta-feira, 23 de março de 2016

#jesuis...

E de repente acordamos no nosso dia a dia seguro e monótono, na nossa casa quentinha, zangados porque os nossos filhos gordinhos nos acordaram à noite, prontos para tomarmos um banho relaxante antes de irmos trabalhar. Pegamos no nosso smartphone com internet e fotografias, abrimos as notícias e toma lá chapada na cara. O que é isto? O que se passa no meu mundinho evoluído, seguro e monótono, o que vem a ser esta merda, podia ser eu, o meu marido, os meus irmãos a morrer naquela tragédia que levou mais de 30 pessoas de uma só vez...
Triste, tão triste esta era que vivemos. Onde rebenta com tanta força um ódio mascarado de deus, uma raiva pela nossa cultura segura e monótona onde todos somos charlie, todos temos uma opinião a dar no Facebook, nos blogs, nos artigos online, porque enfim, a liberdade é um dado adquirido e nós estamos zangados e gostamos de likes. Mas aqui, bem longe das culturas chacinadas, das crianças queimadas vivas, mulheres violadas, meninos raptados. Vocês aí, com as vossas bombas, e nós aqui, com os nossos belos hashtags.
Estou zangada eu também. Não sei o que motivará uns putos mais novos que o meu irmão rebentarem assim, sem mais nem menos, com eles e outros num dia normal. Não sei em que moradas se escondem estes monstros desumanos, deturpadores de uma fé que é, ao fim ao cabo, amor, só amor, e que conseguem chegar aos nossos do lado de cá, os que cresceram neste mundo evoluido e seguro e livre e superior, mas já sem fé e sem amor, vazios de esperança... Não sei que ódio é este, não entendo o fanatismo, não compreendo este desamor que os acusamos. 
O que entendo, compreendo e vejo, é que acordamos num dia como outro qualquer, zangados com os impostos ou com a política, confortáveis no nosso mundinho seguro e monótono, e rebentaram-nos a segurança, abalaram os nossos supostos valores tão dignos de likes. E num piscar de olhos somos eles, e odiamos, berramos, apontamos o dedo a uma cor ou raça. Todos em guerras de likes e ofensas quando deveríamos estar do mesmo lado. O da tolerância. O da liberdade. O da paz. O do amor.



segunda-feira, 21 de março de 2016

Senta-te aí. Bem à minha frente, olha-me nos olhos e ouve-me. Ontem esteve sol, lembras-te? Sentaste-te lá fora, carne ao lume e um copo de vinho branco. O pequenino dormia, e o grande pediu-te para ver descalso no sofá da sala a história do menino Jesus. O que sentiste?...
Senti... Paz. 
Paz, num momento tão simples, num momento que é uma fotografia da tua vida... Porque choras?
Choro porque sei que sou feliz. Mas não sei eternizar aquilo que sei que sou, nos momentos mais simples da minha vida. Choro porque na ânsia do amanhã deixo tantas vezes fugir o agora. Esse agora que  me falas e que é meu, e que tantas vezes me passa despercebido. Choro de cansaço de mim mesmo, da ingratidão que por vezes me inunda no meu egoísmo, tão cego da pena que tenho de mim mesmo... Choro... Não sei porque choro.
Olha para mim... Lembras-te do sol de ontem? Do som do teu lar, do cheiro dos teus? Lembras-te?
Lembro...
O que sentiste?
Paz... Senti tanta paz que achei que ia parar de bater.
Então lembra-te sempre disso. Basta isso.