quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A minha vida é boa

A minha vida é boa. Tenho dois filhos saudáveis, cada um mais giro que o outro, acho aliás que são as melhores crianças deste mundo, sorriem, comem bem, começam a deixar-me dormir convenientemente, fazem sucesso nas ruas e cafés. Tenho uma casa no campo, é pequenina mas acolhedora, o quarto dos meus filhos é quentinho e tem o princepezinho na parede. Tenho brinquedos suficientes para os entreter, tenho internet e tv cabo, tenho um cão, paneleiro mas tenho um cão, dois carros e o passe para o comboio. Todos os fins de semana bebemos café fora, compramos legumes na mercearia local, e borrego no talho da terra, quando está sol grelhamos entrecosto na rua e temperamos as batatas com alecrim colhido diretamente do canteiro. Da janela da sala vejo a serra, e do meu quarto o palácio da pena, de noite quando está calor durmo de janela aberta e oiço grilos e corujas. Se me distraio entram pirilampos no quarto. Todos os dias levanto-me as 6 da manhã, arranjo-me e ponho salto alto para vir para um trabalho que gosto. O meu marido parece um modelo, é só pinta, cabelo loiro, constante sorriso que condiz com a sua maneira positiva de encarar a vida. Ainda por cima ama-me à séria, como diz o meu filho mais velho. Eu também o amo. Tresloucadamente. Discutimos pouco e apanho-me às vezes a mirá-lo enquanto faz jogos com os putos na sala.

A minha vida é boa. Sei que me queixo, sou piegas e canso-me com facilidade. Passo-me quase todos os fins de dias, entre banhos, birras e sopas e tenho vontade de matar alguem quando me acordam de noite. Mas a minha vida é genuinamente boa. 



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