quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Para 2016

Desejo pouco. Ou muito, depende da perspectiva. 
Já quis que tudo ficasse igual. A minha personalidade é, por norma, incompatível com a mudança. Para 2016 quero por-me de frente para o mundo, para o destino, para o futuro, e aceitar a mudança pelos cornos.
Quero saber aproveitar os meus filhos. Quero brindar-me melhor com o prazer de os ver crescer, sem ser de forma cronometrada pela hora do comboio, da sopa, da sesta.
Quero lutar contra mim, naquilo que não mudo nunca. Porque quero sorrir mais, amar mais, viver mais. Para 2016 quero continuar a surpreender-me com as pessoas. Quero obrigar-me a ver as pessoas. Quero começar a gostar de pessoas, talvez seja melhor para começar.
Deixarei de por o pijama mal chego a casa, e de tremelicar de nervos com o aproximar da noite e sua possibilidade de  ser infernizada. 
Quero relaxar na forma como encaro a vida. Quero abrir a gaiola que fechei quando deixei de ser menina e passei a ser mulher. Quero derrubar todos os muros que construí com o passar dos anos e ser eu, mais eu, quando me rio, quando choro, quando amo.
Por falar em chorar, quero chorar pelo menos uma vez por mês, e rir três por dia.
Quero deixar de ter medo.
Para 2016 quero somente deixar de ter medo. O resto vem por acréscimo.

Bom ano pessoas!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Natal

Passou-se mais um natal. O quarto desde que sou mãe, o segundo desde que sou mãe de dois, o que torna o reboliço típico da época digamos... desafiante. Encosto a cabeça no vidro do comboio, chove lá fora e a paisagem é deprimente. Venho com o corpo ainda entorpecido, ressacado, sovado das corridas atrás de um abdul amoroso e suicida com queijo na serra numa mão e um copo de vinho na outra. Dois dias de maratona de costas, pernas e estômago.
Voltar à rotina depois do êxtase é um bocado deprimente. As luzes que ainda piscam nas janelas e nas ruas já estão fora de prazo, a alma está enjoada de tanta fartura.
Apetece-me fechar os olhos e dormir. Fecho os olhos mas não durmo, nunca consego dormir no comboio, por mais exausta que esteja. Não durmo mas lembro-me da alegria dia meus filhos com as coisas mais simples. O salpico adorou uma cena para fazer bolas de sabão gigantes e uma mega caixa de cartão que é mesmo só isso, uma caixa de cartão. Mas ele cabe lá dentro e por isso passa a ser uma casa,um foguetão, um tornado que o leva ao Japão. O abdul adora por soro na penca. É de se comer ri-se todo e põe-se a jeito para o jacto furioso penca a cima para lhe limpar futuras bronquiolites. Acho que também foi o que mais gostou no natal, ter o nariz limpo de meia em meia hora que eu sou obcecada com doenças. Cagaram os dois na cenas relativamente caras que lhes demos, hoje em dia com tanto custo, e toma lá para aprenderes, natal é amor e sorrisos, quem te manda ser consumista? Enfim, lição aprendida por 11 meses, novembro que vem lá cometeremos o mesmo pecado de não lhes dar apenas o que os faz sorrir. Soro para o abdul, caixas de cartão para o salpico.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Chorar

Não sei se isto acontece a muita gente. Mas com a idade, bom, na verdade não sei se foi com a idade, mas sinto que com o tempo tenho aprendido a bloquear o choro (ou desaprendido a lavar a alma).
Parece que o meu cérebro deixou de identificar sinais de tristeza e reinterpreta-os automaticamente de outra forma: estás cansada, estás naquela fase do mês, estás stressada. Passam-se meses e eu não choro. 
Ás vezes, do nada, lá vem a vontade com coisas tão estúpidas como o noddy furou um pneu e o carro irritante faz um olhar triste com os faróis. O queixo treme, a garganta fecha, a visão fica enublada e eu levanto-me às caralhadas, vou-me assoar e começo a despejar a máquina da loiça.
Cultura de merda, temos de ser constantemente felizes. Os anúncios dizem-nos isso, o Facebook diz-nos isso, as notícias e desgraças dos outros obrigam-nos a isso. 
Este fim de semana entregamos-nos à limpeza semanal e profunda da casa. Com dois seres pequenos, o dia inteiro fora de casa e sem empregada, sábado obriga-nos a botar do joelho no chão e esfregar desenfreadamente banana do chão, dedadas na televisão e cotão nos brinquedos. 
Acabada a faxina do casal, adónis sai com criançada para um café e eu aproveito para um banho demorado. Ponho o banho a correr, que sensação boa, casa a cheirar a pronto e sonasol, cansaço das costas e sensação de dever cumprido. E de repente o espelho, e eu comigo, olhos nos olhos. Já fizeram isso? Não é ver se estamos penteados ou com olheiras. É olhos nos olhos com o eu do espelho. Estranhíssimo, em segundos um kilo de soluços e três oceanos de lágrimas. Nem sei porquê... Mas estou sozinha, ninguém vai entrar, e os olhos do outro lado do espelho só desviam se eu desvear, e então choro e choro, porque estou feliz com a casa limpa, porque adoro os meus filhos, porque estou exausta, porque o cabrão do noddy furou um pneu. Eu e eu. Eu comigo mesma. 
Tomei banho e saí lavada. 

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Sempre que abro o blogger e venho para aqui desbobinar palavras fico com a sensação que me repito. Over and over again...
Não sei bem o que é, venho no comboio, por norma ouço musicas nostálgicas, à minha volta caras estranhas, que vida terá cada uma destas pessoas?, e lá fora a expectativa de um novo dia que rebenta. Mas que será, inevitavelmente, pouco diferente do de ontem ou anteontem... E então abro o blogger porque parece que tenho assim carradas de cenas cá dentro, e quando as começo a organizar pimbas. Cá venho eu novamente, necessariamente, obrigatoriamente, constatar que este mundo é pequeno e grande demais. Foda-se não sei porque decidi ser mãe, juro-vos que às vezes não sei. Quanto aos vossos enfim, cada um sabe de si, mas aos meus, oh céus, a sério, este mundo não lhes cabe. 
Falávamos no outro dia entre amigas desta coisa estranha e brutal que se sente quando de um útero nos é disparado um filho. O constante sofrimento. E perguntaram-me, porque sofro eu, tenho medo que duas criaturas pequenas, sorridentes e sempre cagadas de areia e de terra sejam infelizes? Bom, infelizes ainda não, não têm idade para isso. Mas, por exemplo, já tive vontade de espancar um cabrão de um pai natal que não perguntou ao meu filho mais velho o que ele queria para o natal, depois de perguntar a todos os amiguinhos da escola (barbudo filho da puta). Ou de pregar uma rasteira a um estuporzinho de olhos tortos que não emprestou o carrinho precisamente ao meu jóia mais velho. Nada de significativo portanto, mas que vontade de agarrar no mundo e moldá-lo tipo plasticina em castelos de gomas, princesas com poderes, coelhinos de peluche fofinhos para o meu pequeno esfregar no nariz sempre que lhe apetece. Isso e espancar um cabrão de um pai natal.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Montei a árvore de natal.
O meu filho mais velho deixou-me abrir o dia 06 do calendário do advento. Disse-me também “tou muito feliz por tu fajeres anos”.
Almocei na rua. E bebi mínis.
Vi sobrinhos e cunhados, primos e amigos.
Beijei manos e pais.
Bebi imperiais no miradouro do passado. Com o presente a correr livremente pela esplanada.
Jantei carne em sangue.

Cantaram-me os parabéns e o Abdul sorriu de olhos muito abertos por achar que a canção era para ele. (e cantou-a baixinho, como só eu e o pai lhe sabemos traduzir “badaaabadaaaa!”)

Fiz anos, 32 anos, e o meu dia foi tão bom.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Tenho dois cabelos brancos

Tenho dois cabelos brancos. Cabrões, eu que não tenho cabelo, tenho uma vaga amostra de pelo de hamster, eis-me aqui com dois cabelaços crespos, hirtos e fortes... Brancos.
Tenho dois cabelos brancos que ganhei com os segundos a passar, com a angústias do dia a dia, com este amor tsunamico e avassalador de mãe. Um por filho. Um por ovário.
A minha avó já tem 91 anos e a cabecinha toda branca, parece um dia de inverno na neve. Bendita senhora, tão pequenina e mais forte que qualquer lutador de sumo. A minha avó é sábia, não sei alguma vez vos disse, aceita a vida como ela vem. A minha avó aceita mesmo o inaceitável e segue em frente, sempre direita, sempre viva. A minha avó acordou um dia de manhã e disse, meninas vou para um lar. E foi... A minha avó nasceu em berço de ouro, viveu infância e juventude à downtown abbey, e aceitou que a vida lhe fosse tirando as casas, o espaço, o marido e dois filhos. E foi bem direita, com a sua cabecinha toda branca que me disse: querida vou para um lar. E foi...
A minha avó é sábia, não sei se já vos disse, a fé que tem permite-lhe aceitar cada cabelo branco que a puta da vida lhe deu, sempre direita. 
E eu, tenho ideia de já vos ter dito, tenho dois cabelos brancos que quero aceitar como a minha avó aceita a vida. Mas são tão crespos os cabrões...

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Parabéns parabéns, oito vezes parabéns!

Não sei se isto acontece a toda a gente. Mas às vezes tenho micro segundos que me vão buscar aos recônditos da memória momentos de uma forma fotográfica. Micro segundos que derepente viajo no tempo.
Eu de coração a bater dentro a boca. Ao meu lado o meu pai de beicinho. Eu de expectativas no auge, eu com todo um caminho à minha frente, é só pôr um pé em frente do outro, todos me esperam, todos me encorajam. O vestido que me fez sentir princesa. Eu de coração aos saltos na boca. Afinal, é um livro em branco aberto para mim, é a minha história em caneta de tinta permanente. E lá ao fundo tu (mas afinal o que foi que fizeste ao cabelo?). A tinta da minha caneta. As páginas pares do meu livro ainda em branco.
Oito anos, dois filhos, alguns sustos, muitas imperiais, várias tentativas de deixar de fumar, noites em branco, uma casa de sonho, tantos risos, algumas lágrimas, areia primeiro em 4 pés, depois em 6 e mais tarde em 8. Oito anos de nós. Lembras-te do cheiro da igreja?... Cheirava aos sonhos que já estamos a concretizar. 

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Dúvidas, a minha vida é só dúvidas

Já não sei que mundo é este que recebe os meus filhos.
Não sei de onde vem toda esta cena mole e peganhenta de horror, indiferença, hashtags poéticos e uma inatividade a touchscreen.
Já não sei que explicação lhes dar, honestamente, e isto é um problema. Oh mãe existem lobisomens? Eu digo que não, mas que os há há. E ganham os cabrões. Isto é difícil de gerir e explicar, queria agarrar neles, delimitar um perímetro de segurança física, moral e emocional,  dizer-lhes que além fronteiras não há nada, só um buraco negro que chupa tudo lá para dentro. As crianças obedecem sempre melhor face ao medo.

Mas tudo isto é impossível e lá fora a polícia anda armada, e tenho azia cada vez que me enfio num comboio cheio de gente. Prevejo uma úlcera nervosa dentro de poucos meses.

Entretanto o costa é indigitado, ora mas que bem, votos para que vos quero, os outros, panilas de merda, ficam na retaguarda não vá a realidade ser mais fodida do que se espera e há que manter a coerência para poder berrar IMPOSTOS NÃO GOVERNO AO CHÃO.
Merda para isto.

Este fim de semana foi maravilhoso, mas abriu uma portinhola lixada no meu coração, aquele ar imenso, todo puro, a calma que não se vê na cidade, e eu, o que faço eu aqui afinal?…


Dúvidas. A minha vida é só dúvidas.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Conversas lá em casa

- Brasa é verdade ….
- MÃE O MANELI TIROU-ME O BINQUEDO
- Já vou. Mas estava a dizer-te…MANÉL TIRA A FACA DA BOCA
(e corro para o salvar de si mesmo)
- Diz lá.
- Bom, hoje…
- BUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
- O que é que se passa Salpico?... (os dois a correr para a sala)
- O MANO DASLIGOU A TAVIJÃÃÃO
(Enquanto ligo a puta da tavijão, agarrando o Manuel por uma perna que grunhe desvairado a tentar alcançar o botão da tavijão)- Bom dia Dizer-te que…
- EU NÃO TAVA A VER IXO ERA O SPIDER MAAAAAN
(Manel) NÃNÃNÃNÃNÃÃÃÃÃ
(e cai com a birra de cabeça para trás)

- AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH. IADIZERTEQUEJÁPAGUEIALUUUUUUUUZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ.


Este fim de semana casal adónis parte sem crianças para fim de semana sem horários, sem interrupções, sem banhos birras sopas. OÍEÉ

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Medo

Sábado de manhã acordei às seis e picos com o mais novo. Levantei-me ainda de noite, tirei-o da cama, mudei-lhe a fralda e beijei o mais velho que entretanto acordou. Sentei-os na sala, cada um com o seu leite quentinho e fui fazer o meu balde de café. Sentei-me lá fora já a amanhecer. Onde moro, nesta altura do ano cheira sempre a terra húmida e lenha queimada. Acendi um cigarro e abri o facebook.
Fechei-o instantaneamente ao terceiro post. Voltei para dentro e cheirei os meus filhos que já discutiam na sala. Sentei-me entre eles, e apertei-os como se os quisesse voltar a meter dentro de mim, oh mãe já cheeeeeeega. Não chega. Não vai chegar nunca porque o terror que se passa lá fora, neste mundo onde vos pus, enche-me de pavor, de horror. 
Como se luta contra isto? A possibilidade de algo lhes acontecer, por mais ínfima que seja, é a única altura que me faz arrepender de ter tomado a decisão de ser mãe. Porque quando vos tive não fui eu que virei mãe. Foram vocês que se tornaram pessoas e me tornaram a mim tão vulnerável ao medo constante da queda, do charro, da bomba.
Que mundo é este?...

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Não sou de falar de política. Acho tudo uma real merda. Mas, neste caso, urge-me, que se me urge urgentemente, mandar tudo isto para o caralho.
Alguém acredita que algum governo gosta de facto de tomar políticas de austeridade? De ser odiado, achincalhado, insultado over and over again? ( E que, vejam bem, ainda assim ganhou as eleições contra o cristo costa!)
Alguém acredita neste cabrão que toca para o lado que melhor lhe convém, que só vê as coisas dentro do seu poucochinho umbigo?
Mas que merda vem a ser esta?! Vamos andar  agora por uns meses a brincar aos aumentos, subsídios e cortes de impostos depois de todo este monumental esforço que nos saiu do coiro, para depois virem os mauzões da Europa de novo? E a esquerda meter-se novamente aos berros na rua contra este suposto primeiro ministro?
Olhem para a Grécia amigos... 
Foda-se. A sério...

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Pergunta para o queijinho

Sobre esta cena política que se anda a passar, respondam-me como se eu tivesse 4 anos (mesmo):

Porque é que não podemos ir novamente a eleições?......
Duas hipoteses de voto: Coligação de Direita. Coligação de Esquerda.

Hum?...

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Remorsos e sorte

Está uma manhã de cinzenta. Venho mais do que atrasada no comboio. E estou triste. Hoje a noite foi muito difícil e eu estoirei. Palavrões altos e vontade de sair porta fora. Fico louca quando não me deixam dormir, E hoje, o meu pequeno resolveu acordar às 2 da manhã e assim ficar até perto das 5. Venho com aquela puta daquele remorso que todas as mães têm: que não sou suficiente, que me excedo na impaciência, que não brinco, que não beijo, que não amo o que vocês precisam.
Então olho pela janela do comboio e vejo uma menina pequenina com uma mochila cor de rosa três vezes maior que ela correr para apanhar o comboio. E perde-o. E fica aflita, parada, tão pequenina e ali sozinha, com uma grande mochila cor de rosa as costas, a ver o meu comboio partir.
Vocês meus filhos, têm tanta sorte.... E eu, por arrasto, também.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Venho no comboio. Odeio esta merda deste horário de inverno, adorava saber quem foi a besta que se lembrou disto. Mas dizia eu. São 5:30 e eu venho no comboio enquanto lá fora as luzes já se acendem. Venho a fazer listas mentais. Passo a vida nisto, uma canseira: chegar à estação, voar para o carro, buscar o mais velho, comprar básicos, chegar a casa já tão tarde onde me espera um ser pequenino rabugento e sarampitado de varicela. Depois quando chego a casa volto desenfreada às minhas listas mentais: dar pão ao pequeno para se calar 7 minutos, enquanto dispo o mais velho a fingir que brinco as casinhas e depois o atiro para um enorme caldeirão que é só a banheira. Graças a deus tenho lá a minha mãe que me adianta o jantar e cala o pequeno com mel em vez de pão. Quando passa esta correria sento-me com eles no chão do quarto. O mais velho exige atenção, interação, resposta constante. O mais pequeno, nos dias em que dorme bem consegue fica largos minutos sentado, com uma caixa no colo onde põe e tira um qualquer brinquedo. E sempre que o tira faz oooohhhh com aquela boquinha carnuda e babada que só apetece dar beijos. E eu gosto de fica ali deitada só a vê-lo. Abre a caixa. Põe o brinquedo. Fecha a caixa. Abre a caixa. Tira o brinquedo. Ooohhhhh de espanto.
Atrás de mim ouço: mãe vamos fajer uma cajinha pode xer?

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

desconexo da indiferença

Há dias assim. Dias em que se cola uma tristeza peganhenta, uma urgência não urgente só de estar. Sem neurónios, sem emoção, sem nada, nadica de nada.
Acordei de manhã depois de uma noite (novamente) mal dormida. Arrastei-me pesada à cozinha, balde de café, torrada, e sento-me lá fora. Está tudo escuro, não sei porquê as luzes da rua não acenderam esta noite. Dói-me a cabeça e tenho ainda aquele frio que só passa com o sono. Lá dentro ainda dormem todos. Vem lá mais um dia. Duche a correr, secador base a tapar o ar verde e exausto. Comboio, caminhada, banco.
Tenho tudo. Tudo mesmo. Saúde, emprego, filhos, um marido que amo genuinamente. Tenho uma casa que adoro, internet no telemóvel.

Mas depois há dias assim… em que se cola uma tristeza peganhenta, urgente e sem urgência…. Uma merda isto de não ter desculpas para chorar. Penso então na instabilidade politica. Começo a traçar um rumo aos meus pensamentos, um e um são dois, e vão três, bah, desisto. Quero que se foda a politica. É isso! Não estou triste afinal. Quero só que tudo se foda: os papeis que tenho de assumir, a esquerda ou a direita, os inimig(a)s, as intrigas, os rumores, o sono que sinto desde que fui mãe. Quero que tudo se foda, deixem-me estar sossegada no meu canto que hoje não estou para conversas (pensamentos palavras atos e omissões).

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Olá a todos

Tenho 31 anos. Sou casada vão fazer 8, e tenho dois filhos: um terrorista pequenino de pouco mais de 1 ano, e um filósofo também ele terrorista de 4. 
O meu nome é Ana RIta, by the way, e sou portuguesa nascida em Lisboa e atualmente moradora para lá de Sintra. Trabalho num banco já vão fazer 10 anos.
Sou católica... Bom, sou crente em algo que se aproxima ao catolicismo sendo que a prática é unicamente "espiritual" (e egoísta).
A minha vida é hoje orientada para o imediato: cheira mal - muda fralda com direito a pontapés furiosos. São horas de saída - apressa o passo para o comboio que a creche fecha as 7. Tenho a vida regrada por pavlov: reage, saliva que cheira a carne. Instinto de sobrevivência quase irracional que a classe média nos impõe: um ritmo alucinante e plasma na sala. 
Depois tenho outras coisas. Uma cabaninha de canas para os meus filhos brincarem, por exemplo. Ou muita vontade de escrever coisas.



terça-feira, 13 de outubro de 2015

O meu filho mais velho, agora, questiona-se/me sobre a morte.
Isto é assustador, como explicar o ponto final a uma criança de 4 anos?
Oh mãe, onde está o Michael (Jackson, sim, o próprio, nunca falei aqui, mas os meus dois filhos descobriram este homem na tv e agora revivo anos 90 over and over again). Oh filho, bom, o Michael, bom o Michael morreu. Faz-se silêncio. Está morrido, pergunta-me indignado. Como axim, está ali, na tavijão.
E eu fico nervosa, falo-lhe do céu, do sono, olhó bujix lá fora.
E de repente tenho o miúdo a questionar-se. E pior. A questionar-me. 
Onde está o tio manel? 
Não é tio, é avô. Está no céu. 
Está morrido mãe?... 
Hum. Sim morreu e agora está no céu. 
E onde ficou morrido o tio manel? 
Avô, salpico, é avô manel. 
Xim, onde? 
No hospital (toda eu sou reticências, não quero continuar esta conversa).
Mãe quando eu for velhinho tu vais estar morrida?

Para tudo. Escuta filho, não quero pôr o tempo a passar nessa forma pragmática que vocês, crianças, têm de arrumar as coisas. Come lá o bolicau, procura a fadinha debaixo das pedras e pede chupachupas ao pai natal, pode ser?

E ele arruma o assunto de outra forma.
Bom mãe, quando eu for velhinho tu, o pai e o manéli xão meus filhos. Pode xer? (ele tem esta questão amorosa sempre a rematar tudo o que diz, vou fazer xixi, pode xer? Vou jogar computador, pode xer?).
E eu digo que sim, pode ser.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Sono. E caos.

Às vezes é um abismo estranho esta minha cabeça. Micro segundos que passam e a sensação de efemeridade dá cabo de mim. No fundo eu sou uma preguiçosa. Todos me gozam porque digo que mal posso esperar por chegar a velha. Ui c’a maravilha, vida: check. Cansa-me esta correria. E às vezes nem sei porque corro, mas corro e corro e corro. Credo, que canseira. A minha vida espremida ao detalhe é um caos assustador e maravilhoso. Tenho brinquedos no fundo dos lençóis, banana e bolacha maria coladas no chão, cheirinho a bebé nas toalhas de banho. Tenho uma gripe e não tenho tempo de a curar. E um trabalho que, bom é melhor não falar nisso. Acho que pari os meus neurónios com o meus filhos e agora toda eu sou amor e medo e cansaço. Uma cena completamente irracional e ilógica.
Morro de saudades do meu avô. Oh Santito já manda no banco? Oh avô... Então não mando? Rezo por si todos os dias. E eu por si avô...
E volta aquela sensação esquisita de pressa e medo que o tempo passe. Olho para o Manuel e quero que ele cresça e durma e coma sozinho. Olho para o salpico e tenho saudades dos caracóis de bebé.
Tenho tantas saudades do meu avô. Ria-se muito baixinho e chorava sempre, e limpava as lágrima de riso com as costas das mãos. Acreditava tanto em mim, que quando penso nisso fico com vontade de largar tudo, e escrever romances no meu jardim a fumar charros e beber vinho branco. Estou a brincar. Mais ou menos.

Caos. Mãe, está a ler-me? Precisava taaanto que dormisse hoje com o Abdul. Tenho quilos de sonhos para pôr em dia.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Depois queixem-se

Ontem foi dia de votos. Ai esperem, vamos um bocadinho atrás.
A semana passada a família gomes foi regada por vírus vomitados e espirrados. Noites com dezenas de mudas de lençóis. Eu com dores na cara e no corpo, ranho até aos miolos. Mãe, eterna ajudante nesta vida louca de quem trabalha, tem filhos e uma casa vai que desata também a vomitar. 
A semana passada foi para esquecer de cansaço, espirros, tosse e vômitos.
Eu sou uma pessoa com uma tolerância ao cansaço abaixo de zero, e heis me aqui, nesta vida corrida, zangada às vezes, mas heis me aqui.
Domingo foi dia de votos, e nós que somos malta de ter a papelada em dia tínhamos de ir cada um à sua freguesia de solteiro: um a cascais e outro à graça. E veio um temporal que quase nos arrancou as telhas de casa. E eu, com ranho e enjoada a limpar nova dose de vomitado arabesco do meu abdulzinho pequenino que nem assim perde o seu porte de criança soberba. E fomos. Casal adónis, amarelo e exaurido, com duas crianças adoráveis e refilonas. De manhã a cascais. De tarde à graça. Oh minha graça, que saudades de você.... E marcamos o bendito x.
Portugueses de meu Portugal... Porque não votaram ontem?... Hum?...
Tanta coisa com a liberdade de expressão, ai que sou charlie, ai que mulher valente que sou, arranco soutiens e quero ser diretora... Ai tanto que opinamos no facebook, governo de merda, troika bandida, oposição corrupta, e depois, vai na hora de realmente ter voz e pimbas, toma lá 43% de abstenção...

Depois queixem-se. 

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Estou aqui no comboio, praticamente de madrugada. Que merda isto de ser suburbana. Aqui vou eu, para mais um dia de trabalho num emprego cada vez mais incerto. Que merda isto da crise. E vou cansada porque, que merda, ainda acordo tantas vezes à noite com o meu filho mais novo. Entretanto, oh que merda, já não tenho fraldas, nem leite, nem detergente da loiça. Merda isto de ter ainda de ir fazer compras. Num final de dia assustadoramente galopante, porque, que merda, chego tardíssimo a casa e os meu filhos têm de ficar tanto tempo na escola. Que merda.
Aqui vou eu. Na merda do comboio. Com preocupações de merda na cabeça. Imagino que seja precisamente esta merda que se passe na merda da cabeça de quem governa este continente de merda. É muito mais fácil ocupar a mente com prioridades de merda. Enquanto aqui, ao meu lado, ao nosso lado, aqui mesmo à mão de semear, este menino que podia ser nosso, que podia ser o meu caracóis de sol, o meu pobre menino que tanto sofre um dia inteiro numa escola à beira mar, morre a tentar uma vida melhor.


segunda-feira, 27 de julho de 2015

Cenas de mãe e outras que tal

Ando numa fase boa. E má. Já passaram mais de dois meses desde que deixei de fumar, e ando bem. Engordei, detesto sentir o botão apertar em esforço, mas diz que estou com a pele mais bonita. Agora venho no comboio a fazer uns exercícios abdominais, impecável, ninguém repara que estou sem respirar e a contorcer os músculos que tenho por de trás da xinxa.
O meu adonis também deixou de fumar e, benzádeus, que se era maravilhoso, agora está extraordinário. Lindo que dói. Estamos os dois numa fase boa.
Mas inconscientemente, fica uma espécie de uma raivinha interior, uma lagrimazinha fácil, uma coisa difícil de explicar mas que, traduzindo por palavras é algo como "falta qualquer coisa". Não é desesperante, mas é uma moinha que às vezes é fodida. 99% do meu dia estou certa que nunca mais voltarei a fumar. Ms depois há aquele 1%, depois de uma noite má, ou algo que o valha, que penso por micro segundos: what the fuck, só se vive uma vez.
Estou-me cagando para o tabaco, estou livre dessa merda e isso é bom.

Ando numa fase boa. E má. Tenho mais energia, mas também tenho mais ... como dizer... sentimento?! Não sei, a minha pele transpira cenas, ora raivas, ora amores, ora vontade de chorar, ora vontade de rir. 
O meu filho mais velho teve um aceso de loucura e mandou fora as chuchas. E eu tive vontade de chorar, quase me atirei aos seus pés aos berros: NÃO FILHO PELAMORDEDEUS PARA IMEDIATAMENTE DE CRESCER! Mas contive-me, bati palmas, dei-lhe gelados e uma merda caríssima que atira um minion pelo ar.
Às vezes odeio ser mulher. É muito sentimento para um coração só.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Eu sou uma pessoa exagerada. No que sinto, no que digo. Quem me conhece sabe que sou capaz de dizer as maiores barbaridades, principalmente no que toca à maternidade: ai que não me deixou dormir vou devolvê-lo à segurança social, ai que já pesa mais de dois quilos pode ficar no colégio militar, ai tu que tens saudades de bebes eu dou-te o meu de bom grado e vou buscá-lo quando completar os 18 anos. E muito mais que não digo porque não sei quem me lê e ainda fazem queixa de mim à proteção de menores.
Eu sofri muito nos meus dois pós parto. O chão fugiu-me debaixo dos pés naquele choro berrado e timbrado dos meus dois filhos. Eu optei por só dar de mamar mês e meio, porque me sentia sufocar naquela dependência só de mim para poderem comer. Eu sinto falta de, na minha caminhada de volta a casa, seguir em frente para a graça para finais de tarde descomprometidos e carregados de imperiais, em vez de virar na estação dos restauradores rumo a uma corrida extenuante para creches, birras, sopas e banhos. Peço tantas, mas tantas vezes que os meus filhos cresçam, que sejam independentes.
Mas aqui me confesso: 
O meu Manuel pequenino, o meu filho moreno e refilão, o meu sorriso com dente sim dente não, ditador das noites infernais, fez ontem um ano de vida. Um ano. E eu tive vontade de chorar com a inevitabilidade do tempo...

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Hush little baby don't you cry

São tarados encapuçados que matam em nome que um deus implacável. São pessoas que fazem filas para levantar os 60 euros que lhes são autorizados. E políticos a fazerem blufs, a fazerem da vida das pessoas um jogo de pocker. São crianças raptadas e torturadas, são animais mortos porque sim. É um império chinês a entrar em pânico e o ocidente a conter o ar , que agora é que é, vamos todos pelo ar. São pessoas com preconceito contra o amor que não tenha a forma que lhes cabe na tacanhez. E que se enchem de ódio só porque... Não sei porquê... 
São corruptos, pessoas más, primeiros ministros presos, um mundo que, Foda-se, é nojento.
Estou farta. Quero isto. Quero o mundo deste lulaby, um mundo a fazer-se melhor para nos receber. Quero a esperança de novo, dás-ma?...

terça-feira, 7 de julho de 2015

Isto de ser mãe

Passo pela cozinha e apanho salpico a roer um choriço tal e qual um cão rói um osso. Paro incrédula a olhar. Ele vê-me e manda o chouriço pelo ar. Testa-me o humor fitando-me. Eu tenho vontade de rir mas continuo muito séria batendo com o pé no chão. Ele sorri. Vê que não correspondo, para de sorrir. Tenho muita vontade de rir. Ele voltar a sorrir. E eu nada. Pergunta-me por fim: Tu tajangada? Respondo-lhe torcendo-me para não me rir: O que é que acha?! Responde-me imediatamente: Tu adólas mim?
Viro costas a rir, sigo o meu caminho, mama lá o chouriço puto, whatever...

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Sobre isto da Grécia

Acho bonito isto de ter "colhões" na hora de pagar, estas festas com musicas e abraços, abaixo o guito viva a dignidade  etc e tal. A sério que acho. Podiam era ter dito não à dívida, mas não, mamar é fixe.
Ou eu sou de facto muito de direita, muito mais do que achava, ou então não percebo esta merda de se fazer manguitos na hora de pagar a quem empresta. E toda a gente aplaudir porque o dinheiro não interessa, temos orgulho e o caralho. 

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Não aguento mais e tenho de dizer isto

Desculpem-me veggans desta vida, mas por enquanto ainda somos todos livres de dizermos (e comermos) o que bem nos apetecer.
Não sei que raio de onda se instalou nas redes sociais mas agora, post sim post não, levo com uma foto de um peixinho a berrar socorro perante a faca assassina de um sushi chef. Ou um caracol chorando baba (e ranho) enquanto aguarda a sua vez de ser cozido vivo. Ou uma vaquinha bebe que chama pela mãe que está no matadouro. Todos contra. Com manifestações e petições. Opa, desculpem, se calhar vou ofender alguém, mas caramba. Eu também não vos abro guerras contra a extinção das beringelas certo?? Nem vos mando morrer por grelharem toffu nos santos populares pois não?
Que exagero é agora este em redor da defesa dos animais?
Obviamente a queima de um gato vivo por lazer choca qualquer um, e esse sim é um acto que merece a atenção de todos, justiça inclusive. Mas vamos lá a ter calma, sim? Choca-me tanto mas tanto mais todas a crianças que morrem com fome neste mundo. Ou mulheres escravas sexuais, às vezes aqui mesmo ao nosso lado. O caracol na panela, desculpem mas não. Comam couve à vossa vontade, mas não me fodam a cabeça e deixem-me lambuzar de sashimi à vontade, pode ser? Ou então revoltem-se contra os leões, esses cabrões que não param de engolir gnus à bruta!

Então e deixar de fumar?

Mês e meio de pureza pulmonar, até agora tudo mais ou menos controlado. Pronto, ok, estava eufórica com a alteração de pele e de vida, a correr muita boa, e de repente estou coxa e tenho fome. Maneiras que a moral baixou um bocadinho e ontem à noite sonhei que fumava.
De resto, a vida andando, sem grandes sufocos.

domingo, 28 de junho de 2015

Putos de buço a mandar-me à merda


Os meus filhos estão crescidos. O mais velho então, dá-me bailes diários de Independência e sofisticação intelectual, as piadinhas de outrora já são, tantas vezes, respondidas com um Oh mããe…

O meu recém nascido escuro e de 12 kilos vai fazer um ano. Está uma gracinha que só visto, às 3 da manhã senta-se e bate palminhas. Um ano, onde já se viu isto.

Estou à espera daquele momento em que, sem eu estar de todo à espera, os meus filhos me mandam à  merda de voz grossa e buço… Não sei se estou preparada.

Por outro lado, a independência deles é espetacular porque nos liberta a nós. Quando somos pais, não sabemos, mas viramos escravos. Escravos de horas, de sopas, de biberãos, de fraldas atafulhadas com merda. E super heróis também, constantemente a salva-los da morte, ou à beira da piscina, ou de boca aberta prontos a engolir uma carocha de meio kilo. Nem nos apercebemos, porque eles são manhosos, mas de repente não mandamos nas nossas horas, as conversas são constantemente interrompidas com um BOA, PARA COM ISSO, OLHA QUE CAIS, PALIMHAS OLARÉ PALMINHAS! E poder acabar uma conversa, ou uma refeição é de facto um luxo. Afinal sim, estou preparada para ser mandada à merda por putos de buço. Quero beber uma garrafa de vinho inteira sentada. Sem me levantar uma única vez.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Decisões

Todos os dias tomamos decisões na nossa vida. Todos os segundos são, aliás, decisões que tomamos. Se viramos  à esquerda, se viramos à direita, se sorrimos ou se vamos sérios, se tomamos o pequeno almoço em casa, se o tomamos antes em frente ao computador. E todas as decisões que tomamos têm, inevitavelmente, consequências.
Eu não me considero uma pessoa ambiciosa. Pausa. Mentira. Eu sou a pessoa mais ambiciosa deste mundo. Porque anseio a felicidade, minha e dos meus. E por isso, toda a minha vida é delimitada por micro e macro decisões que considero no momento que as tomo que me levarão neste sentido: o de ser e fazer felizes queres que amo.
Moro a uma hora e meia do meu local de trabalho. Tenho de ir de carro até ao comboio, faço 40m de caminho, saio com a multidão dos subúrbios e ainda me esperam cerca de 20 m de caminhada. Ás vezes, depois daquelas estóicas noites do Manuel, chego ao escritório (ainda vazio por pelo menos uma hora) impreterivelmente às 8:30 da manhã, e tenho vontade de chorar de cansaço... Porque depois começa o dia, os mails, os telefones, as horas a passar. E eu, mesmo que esteja num dia com menos trabalho, passo o dia sempre na pressão da hora que tenho de sair, impreterivelmente às 4:30, para poder apanhar o meu segundo filho às 6:30 na escola.
Não me queixo, mas sei que sou criticada, sei que sou olhada por todos os outros que tantas vezes é pelas 4:30 que começam desenfreadamente a trabalhar. E me olham de esguelha, olha-me esta sortuda, ainda vai para a praia. E sim, tem dias, com finais de tarde mornos e solarengos, que ainda consigo ir com os meus dois filhos molhar os pés no mar.
Foi a decisão que tomei para a minha vida. Esta de ver os meus filhos sujos de terra. Esta de ser eu a dar-lhes banho todos os dias para os deitar cedo e sem remorsos para um copo de vinho a sós com o meu marido. 
Não serei rica de certeza. Corro inclusive o risco de ser empurrada para o lado (ou para fora...) numa altura de restruturações profundas no sítio onde trabalho. Mas foi esta a decisão que tomei. A de ser feliz.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Desculpem a ausência.
Nem sei bem que vos diga, estou tipo bué estranha. Imaginem que tenho uma lesão tipica de que "pratica muita atividade fisica". Só para verem o nível da coisa. Ganda smile.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Tempo


Ontem, enjoada e cansada da gastroenterite que me lançou numa espécie de coma versão detox apurada, tive de sair para ir buscar os meus filhos à tarde. Normalmente vou sempre buscar o mais novo primeiro que me recebe numa gatinhada frenética e suicida com grunhos de alegria (dito assim parece estranho mas é um amor). Fui alertada para a festa. E eu para mim, oh fonix, mas que festa, se já foi o dia da mãe, dia do pai, dia da criança…. Festa de final de ano mãe.

Festa de final de ano?... COMO ASSIM???? Aquela que eu ainda ontem, pançuda e exausta, fui ver o meu salpico loirinho mascarado à santos populares, cantar com ojamigos na rua “A primavera chegooooou”???

Essa mesmo.



Oh caraças. Que o tempo está a voar. Que agora vou ver não um boneco de caracóis cantar um hino à primavera, mas um rapagão a fazer uma demonstração de judo, com outro gigantesco ser de um ano ao colo.

Ainda não estou em mim com o sprint que o tempo me está a dar….

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Um feriado à maneira

Pois que se chega a casa, com a boca toda anestesiada depois de quase duas horas no dentista, mal disposta e cansada. E a má disposição lança-me na casa de banho até 3 kilos depois. Feriado passado a dormir, literalmente a dormir, com uma tosta integral no bucho, e duas crianças carregadas de energia a destruírem uma casa e a paciência de um santo Adonis...

Hoje estou melhorzinha, obrigada. Mas ainda mal me consigo mexer...

terça-feira, 9 de junho de 2015

três semanas :)

e faz três semana que não fumo. diz a app que instalei que já já vão quase 500 cigarros não fumados (nojo) e quase 100 euros poupados. Independentemente disto, e melhor que tudo isto, tenho muito mais energia, as jolas sabem-me igualmente bem, tenho mais tolerância com os meus filhos, tenho sensações de euforia tipo a vida é bela e tal e coiso, de tal forma que comecei a correr... enfim. who he fuck are you?
:)

quinta-feira, 14 de maio de 2015

O hitler também foi pequenino e se calhar espancado por um judeu

Ontem a redes sociais explodiram com um vídeo de duas miúdas a humilharem um miúdo, agredindo-o durante 12 minutos. Não consegui ver o vídeo até ao fim. É de uma brutalidade psicológica horrível. O vídeo foi rapidamente compartilhado e vozes de horror e revolta surgiram em todo o lado.
Até que vi outros comentário e artigos, cheios de psicologia, cheios daquela vaidade que muitos pais têm, convencidos que a personalidade dos filhos se molda nas suas (espetaculares e feitas para educar) mãos. Que os meninos concerteza estavam a sofrer muito. Que provavelmente em casa não tinham os meios necessários para crescerem de forma saudável e com os valores corretos.
Ora vejamos. Em primeiro lugar não estamos a falar de meninos. Estamos a falar de homens e mulheres já nos seus 16 anos. Em África uma mulher de 16 anos dá de mamar a um filho, embala outros e trabalha para comer. Esta mania de infantilizarmos os putos, de os protegermos numa redoma porque, coitadinho, tem 15 anos e só quer sair à noite, está a criar uma geração de anormais. Aquelas abeculas aos estalos ao miúdo estão de costas quentes. São cobardes e terrivelmente más. Não são meninas pobrezinhas a fazer birra porque levaram tau tau. E como tal deveriam ser castigadas à altura. Tão crescidas para fumar e humilhar brutalmente um amigo, igualmente crescidas para serem presas.
Depois esta mania que nós pais temos de que tudo está nas nossas mãos... Não está. Pode influenciar mas não está nas nossa mãos criar papas franciscos em vez de jihadistas. Não se esqueçam malta. Até o hitler foi pequenino e inocente. E, se calhar, até foi maltratado por um judeu quando era puto. Justifica o monstro que se tornou?

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Dois anos que passaram. E o que parece de ontem, foi, afinal, já há dois anos. Em que comemorei mais dois aniversários do meu filho. Engravidei e fui mãe de novo. Dois anos passaram, faz hoje, dia de nossa senhora de Fátima, que deixei de poder ouvir o meu avô. Ainda não me consigo conformar com a mortalidade das coisas... 

terça-feira, 12 de maio de 2015

Olá Pessoas. Desculpem a ausência. Estou com mais inclinação para o outro blog, agora que sou uma pessoa carregada de descobertas espetaculares e que estou obsessivamente a auto analisar-me e a descobrir merdas transcendentes como forma de não deixar escapar esta soberba inspiração que se me deu.
Entretanto vi esta notícia e fiquei abalada. Este mundo está todo fodido. Mas caganda lol. E este senhor está gagá, não deviam permitir que falasse assim para o público em geral, é quase bullying, coitado do velho. 

terça-feira, 5 de maio de 2015

Crise dos 40 numa mulher de 31

Acredito piamente que existem momentos nas nossas vidas, repletas de stress, de segundos que se auto devoram, de obrigações profissionais, pessoais e sociais, em que temos de meter um travão, parar, sentar e pensar um pouco.
Sou uma mulher de 31 anos a passar a crise dos 40 dos homens.  Enfim, o que sinto é tipo um presságio, um apito qualquer que me diz que algo tem de mudar. 

Todos os dias, sabe deus porquê, abro a merda da net, e vejo cenas horríveis. Miúdas violadas por árabes tarados convencidos que são a mão de Alá. Crianças com cancro. Aviões que são atirados contra os Alpes por suicidas. Aldeias dizimadas em África. Pessoas desempregadas com filhos doentes. Barcos carregados de imigrantes ilegais (ou tráfico humano) a irem ao fundo. 
Opa que merda de mundo este. Eu não me sinto revoltada nem nada. Sinto-me assim desesperançada. Suspiro.

Depois penso ena que sorte que tenho. E tenho. Então que raio de comichão na alma é esta? 

E como estou assim nesta fase de introspeção, e porque o meu grande mal é sono por isso há que não dar demasiada importância, decidi começar a fazer montes de bulets na minha vida. Vantagens e desvantagens de tudo e um par de botas. Imaginar aquilo que quero ser. Rever o que faz com que eu não seja aquilo que quero ser.
Isto é bom. Tenho segundos de pura revelação e excitamento, Uau que ser humano incrível que eu sou; eu sou capaz etc e tal. E ponho-os num bullet: 
- Ir a pé para o trabalho é bom. Vencer a inércia (e a fortuna) de ir de metro. Venho cheia de ânimo e energia e com a sensação real de ter emagrecido.
- Comer dieta num refeitório cheio de bancários é saudável (e barato). As batatas fritas da opção carne iam entupir as minhas veias de colestrol. O sushi ia abater uma fatia considerável do meu (miserável) orçamento e uma vez satisfeita a fome só sobraria uma sensação de enjoo a peixe cru por ser uma verdadeira alarve na opção rodízio.

E por aí em diante.



Entretanto a vida é linda e eu adoro ver andorinhas frenéticas e aos guinchos atrás de mosquitos.






segunda-feira, 4 de maio de 2015

Deixar de fumar - take II

Eu sou incrivelmente ridícula no que toca a este ponto. Já tentei inúmeras vezes deixar de fumar, e todas elas sem sucesso. Isto porque, na minha cabeça, eu sou uma pessoa desmesuradamente infeliz sem o cigarro. E o processo de deixar de fumar, por si só, faz com que desate a fumar como se o mundo fosse acabar amanhã. E quando tento, berro ao mundo inteiro. Quando falho reforço a minha certeza de que sou incapaz de o fazer. E fico com vergonha de mim. Aliás, muito pior. Não fico. Mentalizo-me que é assim que sou, não vale a pena tentar, quem não gosta não olha etc e tal.
Estou numa fase da minha vida complicada. Graças a deus não são complicações sérias. Tenho dois filhos saudáveis, emprego, casa com jardim e um marido que amo desmedidamente. Mas depois tenho este feitio de cadela, não tolero as putas das noites que me têm assombrado, envolvo-me numa penumbra escura e depressiva em que passo o dia inteiro a arrastar-me sonhando com a noite, e quando esta chega tenho taquicardias por saber que não vou dormir o que preciso.
Esta minha onda sinistra de pensamento aplica-se em tudo. Porque sou completamente exagerada. Para o bom e para o mau. E aplica-se também ao deixar de fumar. O simples pensamento de deixar de fumar enche-me de horror. Quando ganho um pouco de coragem, imagino logo os bons momentos, em que vou estar ao sol, a beber uma míni e a fumar um cigarro, e os maus momentos, em que mandei 15 pontapés na parede as duas da manhã de sono e exaustão, e para não assassinar ninguém vou fumar um cigarro. E aqueles segundos que decidi que vou deixar de fumar já se foram na certeza que vai chegar o momento que eu não vou conseguir, seja ele ótimo, seja ele péssimo.
Isto para dizer que estou neste processo de mentalização.
Enviaram-me o pdf de um livro que promete um milagre: deixar de fumar não só é fácil como é maravilhoso (um grande bem haja Lourenço). Li o livro como fumo: à bruta, sem respirar, à espera do milagre. Hoje já decidi que vou deixar de fumar três vezes. E fui fumar a pensar nisso.
Acho que já é um começo. Este querer a sério, não só pelo dinheiro, ou pela saúde, mas porque quero ser diferente.
Vou recomeçar o livro de novo hoje, com mais calma.


Entretanto, vou fumando.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Para quem ficou WHAT THE FUCK com o post anterior

Estou em processo de mentalização para deixar de fumar. (Ainda) Não deixei de fumar. Aquilo foi um sonho. Foda-se que se tem de explicar tudo.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Deixar de fumar - take 1

Abro os olhos. Consigo ouvir a minha pulsação na máquina. Ritmada. Pausada. Pi. Pi. Pi.
Oiço também a bomba que me dá ar. Demoro alguns segundos a voltar a mim. Tento mexer os braços, não consigo. E a máquina. Pi. Pi. Pi.
Na minha cabeça os meus filhos. Mãe quero comer os teus cabeios. Sorrio. O som da xuxa, a forma como me cheira deitado ao meu lado de pijama. Janela aberta para as fadas entrarem, mãe hoje as fadas vão dar taaanto pójinho mágico a eu para eu ficar tanto gande. A mão morena do Manuel. Dadadada. Beijos nos refegos que cheiram a Johnson “bons sonhos”.
E olho à volta. Só consigo mexer os olhos. E a bomba pausada. Pffff. Pausa. Pfffff. Oiço vozes mas não as entendo.
As festas nas escolas. Manuel a andar, taralhoco, olhos tão grandes e vivos, sedentos de novidades que encontra nos paus, no mar, nas formigas no chão.
Salpico a escrever pela primeira vez mãe adoro-te.
No peito sinto agulhas, a garganta seca, quero virar a cabeça. Não me consigo mexer. Tenho tanto sono. E a máquina. Pi. Pi. Pi. Agarro-me de novo àquela linha estranha e boa de pensamentos. Os olhos cor de mel do meu salpico. Eu que lhe ralho, não podes comer tantas coisas boas, ficas doente. Oh mãe, fico taanto godo que não conxigo correr? O Manuel gatinha atrás de mim. Amo-os tanto. É tão estranho este amor, como se fosse uma continuação de mim, mas melhor e não minha.
- Mãe.. mãe?
Quem me interrompe? Estou tão feliz aqui, na lembrança. E então a voz do médico. Terminal. O meu adónis a engolir lágrimas ao meu lado. Querendo ser forte para mim. E eu focada. Terminal. Terminal. Terminal. Termina aqui? Calendário de tratamentos. Cigarro filho da puta. As dores. O cabelo na banheira. Quero chorar mas os tubos não me deixam mexer. Isto só pode ser um sonho, isto é um sonho. Quero  pegar nos filhos dos meus filhos.
- Mãe.
- Deixe a mãe salpico…
E eu quero responder, olhá-lo, falar-lhe, mas tenho tubos, e a máquina. Pi. Pi. Pi. Come-me os segundos que se vão.
As xuxas no chão. O Manuel no meu colo, morde-me o queixo. E o salpico. Mas eu poxo ir cuntigo para o xéu mãe?
E o céu, existe?
- Não salpico. Mas a mãe vai estar sempre aqui. No seu coração.
Abro os olhos. A máquina. Pi. Pi. Pi. Vejo-os ali. Os meus três homens. A minha família que o meu cigarro destruiu. E o arrependimento grita mais alto que a máquina. Pi. Pi. Pi.
- Mãe?
Olho para ele. Caracóis de sol despenteados. Chora com o narizinho colado a mim. O Manuel dorme ao colo do meu marido.

Fecho os olhos e adormeço num sono que não é meu.

terça-feira, 28 de abril de 2015

Sou boa a educar

- Mãe, poxo dijer maxada?
- Massada? Pode, claro. (chique o raio do puto, diz "que maxada, hoje é frango outra vez")
- E bolas? BOOOOOLAS?
- Sim, também pode dizer booolas! (Sou boa a educar, não há qualquer tipo de dúvida. Olheiras recompensadas. E olho-o enternecida, vaidosa do meu excelente trabalho)
- E caiáio? Poxo? Poxo dijer caiáio?
- ... (foda-se puto, tavas a ir tão bem...)

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Tenho saudades do meu avô... Acho que é muito raro o dia que passa e eu não me lembre dele, calmo e sereno, tão bom o meu avô. Agora vou rumo a casa, tenho o pequeno doente, e lembro-me de novo do meu avô Manuel e de como ele iria amar este Manuel pequenino que eu fiz. E fico assim com vontade de chorar, como se fosse pequenina outra vez, e pudesse chorar à vontade porque o meu avô me calaria o choro com presentes e goluseimas. Mas não posso chorar, estou no comboio rumo a casa para acudir um Manuel pequenino que está doente. Sou crescida. E o meu avô faria hoje anos. E diria oh Santito o seu avô não merece foi ter trabalho comigo Santito, por causa de uns after eight que lhe daria com beijos. Mas ele não está cá. E eu estou com saudades e confusa porque tenho um Manuel pequenino e doente em casa que passou a noite em branco... E porque hoje o meu avô faria anos e eu não sei o que fazer aos after eights que tenho na dispensa.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Direitos

Aqui no sitio onde trabalho, e uma vez que as coisas estão, digamos, vá, estranhas, têm-se implementado algumas medidas de motivação para compensar a estranheza/falta de promoções/incerteza em relação ao futuro/ pânico/ descrença etc e tal.
A primeira medida foi dar o dia de anos ao colaborador. Um grande clap clap. De seguida, pessoas com filhos até aos 18 anos podem gozar a tarde de anirversário dos filhos. Mais um clap clap? Mais ou menos.
Tenho uma grande amiga antiga, que, lá está, é um poço de incoerências e por isso a amo tanto. Pois que ela, que primeiramente achou tudo muito bonito, quando resolveu dar corda aos neurónios e começar a pensar no assunto, auto intitulou-se de indignada. ESTOU INDIGNADA. Toda e qualquer mãe fica logo assanhada com a falta de sensibilidade desta gente que, não tendo filhos e, por consequência, uma vida totalmente livre, despreocupada e descansada, se indigna com este tipo de medidas exclusivas para pais/mães. Eu primeiro não liguei peva, no fundo toumacagar, acho que sim, eu mereço a merda da tarde para ir comprar smarties e bolos. Mas depois a discussão foi-se estendendo. E eu, mãe de duas criaturas infernais, gozadora de maravilhosas baixas de maternidade e redução de horário até à criança completar um ano de vida, estou com a minha amiga antiga, que ora é comuna, ora é fascista, e acho uma injustiça. Não que as mães gozem as tardes para comprar smarties, ir à depilção, dormir ou mandar uma, mas que aqueles que não gozando baixas, não gozando de reduções de horário, não tendo a restrição normal na disponibilidade por causa dos horários das creches/consultas/reuniões de pais/dias da criança/dia da mãe e o caralho que foda, não tenham também direito a estas "medidas de motivação".
E a discussão foi-se acendendo, mães furiosas, que eu não durmo, que o meu filho te vai pagar a reforma (putadocaralho), que eu saio daqui e sabes lá o inferno do fim de dia que me espera, que os filhos com 15 dias não podem ficar sozinhos. E às tantas, eu, que no fundo, toumacagar para tudo isto, comecei a ficar nervosa. Acho que a minha antiga tem TODA a razão. Não me venham cá dizer que isto é uma medida de apoio à natalidade, não me fodam, não é para ter mais uma tarde por ano para comprar smarties e bolos, que vou desatar a parir para dar de comer à segurança social. Isto é tão somente uma medida de motivação. E sendo uma medida de motivação, quase arrisco a dizer que a minha antiga, com total disponibilidade para a instituição onde trabalha, sem restrições de horários, sem dias de mães/criança/pai e cão, sem baixas infindáveis e regressos desmemoriados e improdutivos, merece muito mais a merda da tarde do que eu. 

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Escrever até que os dedos me doam, vomitar sílabas, esquecer o nexo, a lógica, deixar vir o que tem de vir, nem sempre é fácil, apalavrar a alma, traduzi-la, é, por si só, um raciocínio, ainda assim, lembrar-me para sempre dos dentinhos separados pela chucha do meu caracóis de sol, a forma como diz os “éxes”, fotografar na memória a gargalhada babada no meu escurinho pequenino, não esquecer o cheiro que eles têm de manhã, dengosos e quentinhos, mistura de leite e fralda, parecendo nojento é bom, reter cá dentro, para sempre, a mão do meu marido, forte e decidida, para mim as mãos são o espelho da alma, na cabecinha pequenina do mais novo, oferecendo-lhe sono na nossa cama às 5 da manhã. Deixar voar para fora de mim as raivas, as desilusões, as coisas tão feias que se ouvem nos telejornais, não sei porquê mas parece que têm mais cola na memória, fica mais difícil esquecer o que eu nem queria saber, uma espécie de um detox, tão chique que é fazer detoxes, mas do coração, beber mais, muito mais, aqueles momentos que são bons. Não me esquecer da temporalidade das coisas. Isso sim é de valor. Porque o que é mau há de passar. O que é bom pode não mais voltar.


E ainda não me doem os dedos…

terça-feira, 21 de abril de 2015

Coisas que me irritam

Pessoas que se amam excessivamente. Ou então não.
O meu cão ladrar furiosamente para um grilo que passou. Ás três da manhã. À janela dos meus (notivagos) filhos.
Ter cigarros e não ter isqueiro.
Fo(u)fices.
Ser vagamente enconada.
Ressacas com filhos.
Mails com a fatura da edp.
Pessoas que fazem boquinhas nas selfies.
Os filhos dos outros dormirem a noite toda desde os 12 dias de vida.
Pessoas que dormem até tarde com filhos.
Eu ser tão obcecada com a questão dos sonos.
Pessoas que mastigam ferverosamente obrigando-nos a imaginar todo o seu processo digestivo.
Pessoas (que conseguem ser) saudáveis.
Esterias e a sua imortalidade.
Ter mais pelos que cabelo.
Ser obrigada a ter vida social quando se está numa fase que mal se tem vida pessoal.
O dinheiro nunca chegar.
A propósito do item anterior, haver sempre um "oops foda-se" todos os meses que nos lixa o orçamento.
Entregar o IRS sempre muito perto do fim.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Espécie de coiso

Agora começa a aparecer o sol. Despem-se os putos, monta-se a piscina acende-se o grelhador. Abrem-se minis (demais até...), pés descalços no chão quente. E, este ano, cheira a jasmim.

Vejo o mais velho tão grande... O pequeno infernal já gatinha. Estou cansada, mas é verdade que estes dias mais longos e mornos amenizam a alma.

Entretanto, não gosto de pessoas más. Não gosto. Um dia tento definir isso de pessoa má.

Nestas alturas, é muito estranho, porque oscilo, às vezes no mesmo minuto, entre o eternamente grata, bora lá tomar resoluções importantes, daquelas que impactam mesmo a vida, e o vazio, suspiro, cansaço.... E quando digo nestas alturas, também não sei bem dizer que tipo de alturas são estas.


Tive um pesadelo horrível anteontem, acho que foi a primeira vez na vida que agradeci muito ao meu escurinho pequenino ter-me acordado pela vigésima vez. e foi nesse espaço de tempo, que demoramos a sair do sonho e cair na real, que tive assim uma sensação gigante de felicidade, de alivio e gratidão. mas quando dei um pontapé na porta toda fodida de sono a caminho do quarto deles, fiquei novamente furiosa e com aquela sensação de impotência, de quem sofre bués com a privação (e não privatização como estava escrito, credo tou mesmo toda lixada...) de sono.

Acho que a melhor forma de me definir, aliás, de definir esta espécie de texto que advém desta espécie de estado de alma, é averiguar as minhas últimas pesquisas no google:

"bebe 9 meses colicas"
"vida saudavel"
"bebe 9 meses nao dorme"
"champix"
"benificios deixar de fumar"


sexta-feira, 10 de abril de 2015

Tudo na vida é relativo, bem sei. Ainda assim...

O meu filho mais velho, salpico de gente, coisinha loira fofa de sua mãe, foi um grandessíssimo cabrão, mesmo mesmo cabrão, na gravidez, e até pelo menos completar 12 meses de vida e muito quilos: uma criancinha adorável que não gostava de dormir. Lembro-me de pensar no aijesus que isto podia ter sido tão grave, afinal está tudo tão bem, o puto só não gosta é de dormir, e tal, MASPORQUEÉQUESÓMEAPETECECHORAR?
Uma merda isto de não domir. Atenção, que o meu príncipe loiro não passou a anjo noturno com 12 meses de Vida e muitos quilos. Não senhores. Foi com 12 meses de vida e muitos quilos que me deu a PRIMEIRANOITECOMPLETADESONO para aí até as 6 da manhã. Foi um forrobodó lá em casa. Desde então foi tendo fases, já grávida do meu filho mais novo (já falo desse estupor) eu e adónis fazíamos turnos com colchões no chão do quarto do menino que resolveu que tinha leões dentro da cama.
O meu filho mainovo nasceu com o trombone em volume elevadíssimo. A cria era infernal, juro, que me chorava noite e dia , um horror, e eu a vomitar hormonas e leite, a achar que algo de errado se passava comigo. Depois melhorou, mas só no volume do trombone. Que minha cria mais pequena, coisa escura e carregada de dentes de sua mãe, é um estupor vaguissimamente melhor que o irmão na questão dos sonos, mas mesmo só vaguissimamente. Hoje por exemplo, eis-me aqui, a pé desde as 3 da manhã, com um biberão dado à 00:30. Um espetáculo, deu para lavar o resto da loiça do jantar, preparar lancheiras e tomar um banho mais longo. Mas, neste momento pessoas, sinto-me um caco, uma espécie mole de gente, cansada, amorfa, inútil, apavorada. E sem neurónios.

Tudo na vida é relativo, bem sei, mas, deus meu, a serio, porque não dormem os meus filhos? Hum? PORQUÊCARALHO?

quinta-feira, 9 de abril de 2015

quem sou eu afinal

Sou de impulsos. Às vezes gostava de me ver de fora, o meu adónis dizia-me isso ainda ontem, gostava de ver como me vêm os outros. Eu acho-me de impulsos.
Tenho ataques de fúria e mando maços de tabaco pelo ar. Depois vou a correr busca-los ao caixote de lixo.
Eu não corro (exceto atrás deles, e vou a bufar, sempre), eu não faço exercício, não tenho particular cuidado com a alimentação, não bebo água, mas, em compensação, bebo minis. Muitas.
Eu às vezes acredito e ponho o meu filho mais velho a rezar antes de dormir, mas o meu pequeno e escuro mainovo ainda não foi batizado. E a minha avó fica muito aflita com isso. E eu, às vezes, também…
Eu adoro ser mãe, que adoro, mas ainda no outro dia, em conversa com o meu chefe lhe garanti que se pudesse ser única e exclusivamente mãe, fugia para muito longe. Eu adoro, que adoro, ser mãe, mas tenho momentos que sinto tantas saudades daquele passado livre e desprendido, rumo a uma Graça cheia de miradouros, e, lá está, muitas imperiais. Sem sopas. Nem banhos. Nem birras. Nem dores de costas de morte a transportar putas de ovos com bebes amorosos de 11 kilos lá dentro.
Eu fico muito zangada quando o meu filho mais velho come com as mãos, ou põe o cotovelo na mesa, mas, aqui confesso, que às três da manhã já berrei palavrões muito muito muito feios.
Eu acho que tenho mau feitio, mas na mesma conversa com o meu chefe que mencionei há pouco, ele disse que eu era uma pessoa muito afável. Lol. A sério? Eu que acho que estou constantemente com vontade de mandar dentadas furiosas a milhões de coisas que me irritam. Isto porque também me irrito com muita facilidade, e sem qualquer tipo de critério (o tipo que sabe tudo, a tipa que é excessivamente simpática, a puta da chuva a caminho do trabalho depois de perder tempo de manhã a esticar os 4 cabelos que ainda me restam).

Entretanto privatizei o blog mas, como podem ver, já me arrependi. 

segunda-feira, 23 de março de 2015

Tenho de endireitar as costas. Ombros para trás, queixo para cima.
Eu sou dramática. Sou, é assim mesmo, o meu filho mais velho sai a mim, se está feliz gargalha com a alma, se fica triste o mundo vem abaixo numa cascata de lágrimas sentidas e pesadas. Eu não choro nem rio dessa forma. Mas a alma, o que sinto, transborda, é horrível e ótimo. É horrível porque, por ser assim, não consigo relativizar as coisas, dar-lhes uma dimensão real. Ou melhor, consigo, mas só depois de passarem.
Sinto-me cansada, tão mas tão cansada. Não durmo, não paro, corro o dia inteiro, corro a noite inteira. Saio do meu papel de mãe para o de profissional corro para o de mulher, volto ao de mãe, não paro, transpiro por dentro, sinto-me tão mas tão cansada. E pior, sinto que nesta correria, deixo tudo a meio. Não sou boa mãe. Não sou boa mulher. Não sou boa amiga nem se quer boa profissional. Também não sou má. Mas, foda-se, sinto que não sou boa em nada.
E por isso corro, e corro, fecha a cortina, abre a cortina, e eu a correr sem nunca chegar a porra de meta nenhuma. De ombro encurvados, física e moralmente.

Tenho mesmo de endireitar as costas. Ombros para trás, queixo para cima. 

segunda-feira, 16 de março de 2015

Sento-me na areia. O meu marido pega no mais velho pela mão e leva-o a molhar os pés. O que, invariavelmente, significa acabar em cuecas a rebolar no fim da ondas em pleno mês de março. Fotografo o momento. Ao meu lado o pequenino experimenta a areia pela primeira vez com as mãos. Primeiro a medo. Depois com fome (bendita chucha). Fotografo o momento. Abro a caixa dos morangos. Sentamo-nos  no tapete azul ao sol a comer fruta de verão, num dia de inverno na praia. Fotografo o momento. Não quero que nada me escape. Os refegos do pequenino cheios de areia. A barriga do mais velho a escorrer morango. O sorriso do meu marido de calças arregaçadas.
Ando triste. Que ando. Por isso fotografo insistentemente aqueles segundos bons, numa tentativa de os reter para sempre, para não me esquecer quando a vontade de chorar vier com força.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Privatizei o blog. Por um lado tenho pena, nunca tive nada a esconder. Continuo a não ter. Mas quero continuar a por a alma nas letras sem medo.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Então foi assim

(um dois três, inspirem fundo que esta merda não vai ter pontos finais)

Há um ano foi assim, e, para não quebrar a tradição, este ano começamos com um febrão descomunal, toca de adiar a festa para o fim de semana seguinte, quinta fico em casa com o meu adolescente mais velho, muito colo, ida ao médico e mimo, o pequenino de olho negro, cabrãozinho amoroso, está numa fase de estalo, mas não se dão estalos a bebés, isto porque grunhe o dia inteiro parece um gremlin árabe, e de noite resolveu que é fixe chorar de hora a hora, chega sexta, venho trabalhar com vagas horas de sono, toda fodida da cabeça, de manhã para marcar as minhas férias tenho de enviar o mesmo mail 5 vezes, pareço anormal ora sem anexo, ora com anexo errado, ora com datas erradas, passa-se o dia, chego de gatas a casa, salpico febril e carente, Manuel rabugento e babado, só quero que o meu adónis chegue, estou quase a trancar-me na casa de banho de fones nos ouvidos a cantar bem alto ESTAVIDANÃOÉMINHAESTAVIDANÃEÉNHA, liga adónis, tou sem carro, não pega, chega tarde e exausto, passa-se a noite, devagar devagarinho, interrompida de hora a hora a hora, sábado de manha sai adónis para tratar do carro, fico sozinha com as pestes, salpico febril e carente, Manuel começa a ficar quentinho, oh diabo OH DIABO PARA NÃO DIZER OH CARALHO, o dia avança e chega finalmente a noite, ponho benuron no Manuel, deito-o, e janto, eis se não quando Manuel desata-me num berreiro, mas berreiro de o ter de virar de cabeça para baixo para voltar a respirar, nada o acalma, choro gritado olhar fixo na parede, cagaço da vida, o que tens puto, ligo para a saúde 24, mandam-me recambiada para as urgências, Manuel adormece ao colo do pai, achas que ainda valer a pena ir? Acho, acho mesmo, e vamos, pomos o puto no ovo e ele abre um olho escuro e esperto, o meu coração para, ai que me vai aos berros até ao hospital, mas não, ri-se o cabrão, chegamos às urgências e sou recebida com um abraço pela mesma medica que o havia internado com tosse convulsa há uns meses atrás, então o que a traz por aqui, e eu embaraçada, olhe que pareço doida mas juro que ainda há pouco achava que o puto tinha sido possuído por um demónio maléfico, dispa-o lá então, e eu dispo aquele gorducho, de bochecha rosada, boca escancarada a exibir os dentinhos novos e um sorriso angélico, ai que vergonha, cabrão do puto, medica observa, vê tudo, e ele dá às pernas e aos braços, ri-se, mamamamama, só gracinhas o estupor, bom, não vejo nada, se calhar foi uma cólica, e eu, pois, se calhar, voltamos para casa, três da manhã, durmo três horas interrompidas, 6.30 canto os parabéns ao meu salpico, meu amor grande, meu miúdo de 4 anos, e ele de riso envergonhado, diz-me que não senhora, sem insuflável e coijas boas não faço anos. Tudo bem meu amor. Celebramos, se deus quiser, no fim de semana que vem.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A minha primeira barriga vai fazer quatro anos... Quatro. A minha segunda barriga já tem a mania que tem vontade própria e tem dois dentinhos.
A minha primeira barriga, aquela explosão de sentimentos, totalmente aleatórios, completamente absurdos, faz quatro anos no domingo que vem. 
A minha segunda barriga ri-se com gargalhadas e faz burrico velho. Querido pá...
As minhas duas barrigas já começam a comunicar um com o outro. Oia maneli. Axim vomitas, não chores que estou aqui. E ele responde com um grunpfgrnhau. E eu, da porta da rua, faço de voyeur e pergunto-me quando foi que isto aconteceu, isto do tempo lhes dar tamanho e vontade?...
A minha primeira barriga come-me com beijos, tem um complexo de édipo apaixonante, é vagamente piegas e estupidamente cômico. E faz já, no domingo que vem, quatro anos. E a minha segunda barriga vai estar cá para lhe soprar pela primeira vez de muitas as velas de aniversário.




quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A minha vida é boa

A minha vida é boa. Tenho dois filhos saudáveis, cada um mais giro que o outro, acho aliás que são as melhores crianças deste mundo, sorriem, comem bem, começam a deixar-me dormir convenientemente, fazem sucesso nas ruas e cafés. Tenho uma casa no campo, é pequenina mas acolhedora, o quarto dos meus filhos é quentinho e tem o princepezinho na parede. Tenho brinquedos suficientes para os entreter, tenho internet e tv cabo, tenho um cão, paneleiro mas tenho um cão, dois carros e o passe para o comboio. Todos os fins de semana bebemos café fora, compramos legumes na mercearia local, e borrego no talho da terra, quando está sol grelhamos entrecosto na rua e temperamos as batatas com alecrim colhido diretamente do canteiro. Da janela da sala vejo a serra, e do meu quarto o palácio da pena, de noite quando está calor durmo de janela aberta e oiço grilos e corujas. Se me distraio entram pirilampos no quarto. Todos os dias levanto-me as 6 da manhã, arranjo-me e ponho salto alto para vir para um trabalho que gosto. O meu marido parece um modelo, é só pinta, cabelo loiro, constante sorriso que condiz com a sua maneira positiva de encarar a vida. Ainda por cima ama-me à séria, como diz o meu filho mais velho. Eu também o amo. Tresloucadamente. Discutimos pouco e apanho-me às vezes a mirá-lo enquanto faz jogos com os putos na sala.

A minha vida é boa. Sei que me queixo, sou piegas e canso-me com facilidade. Passo-me quase todos os fins de dias, entre banhos, birras e sopas e tenho vontade de matar alguem quando me acordam de noite. Mas a minha vida é genuinamente boa. 



segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Quando andamos a correr, egoístas no nosso pequeno dia a dia, queixosos da rotina, do comboio que vem atrasado ou da noite mal dormida, não nos apercebemos da sorte que temos pelo simples facto de nos podermos dar ao luxo de estar chateados com pintelhices. Como ser humano que somos, por norma, não dizemos ou sentimos que somos assim mesmo felizes. Porque somos ingratos e havia sempre algo mais que podíamos ter...
Eu própria sou assim. E neste momento estou zangada. Zangada comigo, zangada com a vida , zangada com Deus. 
A vida brinda-nos às vezes com pessoas maravilhosas. Pessoas que nos ensinam quase que com uma chapada de luva branca neste focinho egoísta e ingrato, que nos devíamos mandar para o chão e agradecer. Só agradecer, parar de exigir e contemplar pelo menos 5 minutos por dia o céu azul, a gargalhada dos nossos filhos, o jantar na mesa, a saúde que temos. 
Estou triste, tão triste. Minha tia valente, minha tia do cancro teimoso, esse cabrão que te vence agora, ensinaste-me tanto com a tua persistência e coragem. Ensinou-me esse vosso amor, essa vossa entrega aquilo que realmente é importante. Descansa agora que mereces... Mas deixa-me que chore zangada, só por hoje, por não entender esta puta de injustiça. Um beijinho do tamanho da sua fé...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Por causa do post anterior

Por exemplo, agora estou a ouvir a banda sonora do pearl harbor, está uma risca de um avião a rasgar um céu de repente azul, e eu lembrei me do cheiro a lavanda do abraço do meu avô e fiquei com vontade de chorar.

Isto pode ser fruto do cansaço não se preocupem

Isto é a minha cabeça, a vaguear naqueles momentos que tenho meus a caminho e de volta do trabalho. Eu sou de tal forma influenciável que a música que ouço altera em absoluto o meu estado de espírito. Ora venho toda contente a bater o pé e aos estalinhos na língua a ouvir avicii, ora entro numa espiral absolutamente profunda e filosófica a ouvir noiserv. Este post não tem sentido absolutamente nenhum, mas dei por mim a olhar pela janela do comboio, e no momento h da música um raio de sol atravessa furioso uma nuvem e atinge-me a cara. E sem saber porquê achei isto altamente poético. E bonito. E pronto, agora vou mudar de música  e imaginar-me toda maluca a dançar a ouvir Sara Tavares.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Para mais tarde recordar (inlove)

Depois de fazer uma alisamento ao cabelo, vou buscá-lo à escola.
Abraça-me e vai para o baloiço:
_ Tu és uma pinxeja xofia mãe. Os teus cabeios estão munto lindos...

A jogar computador comigo na sala à noite:
_Tu nunca vais ficar xójinha mãe, nuuunca!

Prendo o cabelo na correria do fim de dia:
_ Uau mãe, táj linda pa mim!

E depois assim do nada em inumeras situações no dia a dia:
_ Gosto munto de ti mãe.
_ Tu és uma linda
_ Tu és uma pinxeja e eu xou um pinpixe.

este complexo de édipo está a dar cabo de mim....

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Moi aussi, je suis charlie

Uma pessoa anda aqui a pôr crianças no mundo. Empenhada de corpo e alma em formar seres humanos, bons, respeitadores, apaixonados e livres. Livres caralho.


Uma pessoa tem esperança nesta merda deste mundo, esperança que as coisas sejam como nós as espelhamos. Que sentido faz um mundo que não nos encaixe, não nos receba de forma plena e de acordo com o que acreditamos? Afinal, porque andaríamos nós, eu pelo menos, a sujeitar o meu coração a este amor imenso e avassalador que é o de ser mãe, se não acreditasse que sim senhor, é possível ser-se bom, ser-se feliz, ser-se livre? Livre caralho.

O maior risco de sofrimento a que nos sujeitamos é precisamente quando decidimos ser pais. Não existe puta de dor maior do que a de ver um filho sofrer. E então, todos os dias acordo de manhã e acredito, então não havia de acreditar? Acredito e luto por ser uma pessoa melhor, por fazer à minha volta as pessoas melhores, para que este mundo seja um bocadinho de nada mais digno para receber as pessoas mais importantes da minha vida, os meus filhos. E de repente, uns cobardes encarapuçados de alá, uns paneleiros escondidos atrás de armas, uns monstros de merda destroem mais um pouco a minha esperança, a minha fé, a minha crença, a minha vontade de lutar…

Hoje, amanhã e sempre, je suis Charlie. Porque para os meus filhos eu só quero um mundo livre.
L-i-v-r-e caralho.


(título roubado do "tio caldeira")