quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Para 2016

Desejo pouco. Ou muito, depende da perspectiva. 
Já quis que tudo ficasse igual. A minha personalidade é, por norma, incompatível com a mudança. Para 2016 quero por-me de frente para o mundo, para o destino, para o futuro, e aceitar a mudança pelos cornos.
Quero saber aproveitar os meus filhos. Quero brindar-me melhor com o prazer de os ver crescer, sem ser de forma cronometrada pela hora do comboio, da sopa, da sesta.
Quero lutar contra mim, naquilo que não mudo nunca. Porque quero sorrir mais, amar mais, viver mais. Para 2016 quero continuar a surpreender-me com as pessoas. Quero obrigar-me a ver as pessoas. Quero começar a gostar de pessoas, talvez seja melhor para começar.
Deixarei de por o pijama mal chego a casa, e de tremelicar de nervos com o aproximar da noite e sua possibilidade de  ser infernizada. 
Quero relaxar na forma como encaro a vida. Quero abrir a gaiola que fechei quando deixei de ser menina e passei a ser mulher. Quero derrubar todos os muros que construí com o passar dos anos e ser eu, mais eu, quando me rio, quando choro, quando amo.
Por falar em chorar, quero chorar pelo menos uma vez por mês, e rir três por dia.
Quero deixar de ter medo.
Para 2016 quero somente deixar de ter medo. O resto vem por acréscimo.

Bom ano pessoas!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Natal

Passou-se mais um natal. O quarto desde que sou mãe, o segundo desde que sou mãe de dois, o que torna o reboliço típico da época digamos... desafiante. Encosto a cabeça no vidro do comboio, chove lá fora e a paisagem é deprimente. Venho com o corpo ainda entorpecido, ressacado, sovado das corridas atrás de um abdul amoroso e suicida com queijo na serra numa mão e um copo de vinho na outra. Dois dias de maratona de costas, pernas e estômago.
Voltar à rotina depois do êxtase é um bocado deprimente. As luzes que ainda piscam nas janelas e nas ruas já estão fora de prazo, a alma está enjoada de tanta fartura.
Apetece-me fechar os olhos e dormir. Fecho os olhos mas não durmo, nunca consego dormir no comboio, por mais exausta que esteja. Não durmo mas lembro-me da alegria dia meus filhos com as coisas mais simples. O salpico adorou uma cena para fazer bolas de sabão gigantes e uma mega caixa de cartão que é mesmo só isso, uma caixa de cartão. Mas ele cabe lá dentro e por isso passa a ser uma casa,um foguetão, um tornado que o leva ao Japão. O abdul adora por soro na penca. É de se comer ri-se todo e põe-se a jeito para o jacto furioso penca a cima para lhe limpar futuras bronquiolites. Acho que também foi o que mais gostou no natal, ter o nariz limpo de meia em meia hora que eu sou obcecada com doenças. Cagaram os dois na cenas relativamente caras que lhes demos, hoje em dia com tanto custo, e toma lá para aprenderes, natal é amor e sorrisos, quem te manda ser consumista? Enfim, lição aprendida por 11 meses, novembro que vem lá cometeremos o mesmo pecado de não lhes dar apenas o que os faz sorrir. Soro para o abdul, caixas de cartão para o salpico.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Chorar

Não sei se isto acontece a muita gente. Mas com a idade, bom, na verdade não sei se foi com a idade, mas sinto que com o tempo tenho aprendido a bloquear o choro (ou desaprendido a lavar a alma).
Parece que o meu cérebro deixou de identificar sinais de tristeza e reinterpreta-os automaticamente de outra forma: estás cansada, estás naquela fase do mês, estás stressada. Passam-se meses e eu não choro. 
Ás vezes, do nada, lá vem a vontade com coisas tão estúpidas como o noddy furou um pneu e o carro irritante faz um olhar triste com os faróis. O queixo treme, a garganta fecha, a visão fica enublada e eu levanto-me às caralhadas, vou-me assoar e começo a despejar a máquina da loiça.
Cultura de merda, temos de ser constantemente felizes. Os anúncios dizem-nos isso, o Facebook diz-nos isso, as notícias e desgraças dos outros obrigam-nos a isso. 
Este fim de semana entregamos-nos à limpeza semanal e profunda da casa. Com dois seres pequenos, o dia inteiro fora de casa e sem empregada, sábado obriga-nos a botar do joelho no chão e esfregar desenfreadamente banana do chão, dedadas na televisão e cotão nos brinquedos. 
Acabada a faxina do casal, adónis sai com criançada para um café e eu aproveito para um banho demorado. Ponho o banho a correr, que sensação boa, casa a cheirar a pronto e sonasol, cansaço das costas e sensação de dever cumprido. E de repente o espelho, e eu comigo, olhos nos olhos. Já fizeram isso? Não é ver se estamos penteados ou com olheiras. É olhos nos olhos com o eu do espelho. Estranhíssimo, em segundos um kilo de soluços e três oceanos de lágrimas. Nem sei porquê... Mas estou sozinha, ninguém vai entrar, e os olhos do outro lado do espelho só desviam se eu desvear, e então choro e choro, porque estou feliz com a casa limpa, porque adoro os meus filhos, porque estou exausta, porque o cabrão do noddy furou um pneu. Eu e eu. Eu comigo mesma. 
Tomei banho e saí lavada. 

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Sempre que abro o blogger e venho para aqui desbobinar palavras fico com a sensação que me repito. Over and over again...
Não sei bem o que é, venho no comboio, por norma ouço musicas nostálgicas, à minha volta caras estranhas, que vida terá cada uma destas pessoas?, e lá fora a expectativa de um novo dia que rebenta. Mas que será, inevitavelmente, pouco diferente do de ontem ou anteontem... E então abro o blogger porque parece que tenho assim carradas de cenas cá dentro, e quando as começo a organizar pimbas. Cá venho eu novamente, necessariamente, obrigatoriamente, constatar que este mundo é pequeno e grande demais. Foda-se não sei porque decidi ser mãe, juro-vos que às vezes não sei. Quanto aos vossos enfim, cada um sabe de si, mas aos meus, oh céus, a sério, este mundo não lhes cabe. 
Falávamos no outro dia entre amigas desta coisa estranha e brutal que se sente quando de um útero nos é disparado um filho. O constante sofrimento. E perguntaram-me, porque sofro eu, tenho medo que duas criaturas pequenas, sorridentes e sempre cagadas de areia e de terra sejam infelizes? Bom, infelizes ainda não, não têm idade para isso. Mas, por exemplo, já tive vontade de espancar um cabrão de um pai natal que não perguntou ao meu filho mais velho o que ele queria para o natal, depois de perguntar a todos os amiguinhos da escola (barbudo filho da puta). Ou de pregar uma rasteira a um estuporzinho de olhos tortos que não emprestou o carrinho precisamente ao meu jóia mais velho. Nada de significativo portanto, mas que vontade de agarrar no mundo e moldá-lo tipo plasticina em castelos de gomas, princesas com poderes, coelhinos de peluche fofinhos para o meu pequeno esfregar no nariz sempre que lhe apetece. Isso e espancar um cabrão de um pai natal.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Montei a árvore de natal.
O meu filho mais velho deixou-me abrir o dia 06 do calendário do advento. Disse-me também “tou muito feliz por tu fajeres anos”.
Almocei na rua. E bebi mínis.
Vi sobrinhos e cunhados, primos e amigos.
Beijei manos e pais.
Bebi imperiais no miradouro do passado. Com o presente a correr livremente pela esplanada.
Jantei carne em sangue.

Cantaram-me os parabéns e o Abdul sorriu de olhos muito abertos por achar que a canção era para ele. (e cantou-a baixinho, como só eu e o pai lhe sabemos traduzir “badaaabadaaaa!”)

Fiz anos, 32 anos, e o meu dia foi tão bom.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Tenho dois cabelos brancos

Tenho dois cabelos brancos. Cabrões, eu que não tenho cabelo, tenho uma vaga amostra de pelo de hamster, eis-me aqui com dois cabelaços crespos, hirtos e fortes... Brancos.
Tenho dois cabelos brancos que ganhei com os segundos a passar, com a angústias do dia a dia, com este amor tsunamico e avassalador de mãe. Um por filho. Um por ovário.
A minha avó já tem 91 anos e a cabecinha toda branca, parece um dia de inverno na neve. Bendita senhora, tão pequenina e mais forte que qualquer lutador de sumo. A minha avó é sábia, não sei alguma vez vos disse, aceita a vida como ela vem. A minha avó aceita mesmo o inaceitável e segue em frente, sempre direita, sempre viva. A minha avó acordou um dia de manhã e disse, meninas vou para um lar. E foi... A minha avó nasceu em berço de ouro, viveu infância e juventude à downtown abbey, e aceitou que a vida lhe fosse tirando as casas, o espaço, o marido e dois filhos. E foi bem direita, com a sua cabecinha toda branca que me disse: querida vou para um lar. E foi...
A minha avó é sábia, não sei se já vos disse, a fé que tem permite-lhe aceitar cada cabelo branco que a puta da vida lhe deu, sempre direita. 
E eu, tenho ideia de já vos ter dito, tenho dois cabelos brancos que quero aceitar como a minha avó aceita a vida. Mas são tão crespos os cabrões...

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Parabéns parabéns, oito vezes parabéns!

Não sei se isto acontece a toda a gente. Mas às vezes tenho micro segundos que me vão buscar aos recônditos da memória momentos de uma forma fotográfica. Micro segundos que derepente viajo no tempo.
Eu de coração a bater dentro a boca. Ao meu lado o meu pai de beicinho. Eu de expectativas no auge, eu com todo um caminho à minha frente, é só pôr um pé em frente do outro, todos me esperam, todos me encorajam. O vestido que me fez sentir princesa. Eu de coração aos saltos na boca. Afinal, é um livro em branco aberto para mim, é a minha história em caneta de tinta permanente. E lá ao fundo tu (mas afinal o que foi que fizeste ao cabelo?). A tinta da minha caneta. As páginas pares do meu livro ainda em branco.
Oito anos, dois filhos, alguns sustos, muitas imperiais, várias tentativas de deixar de fumar, noites em branco, uma casa de sonho, tantos risos, algumas lágrimas, areia primeiro em 4 pés, depois em 6 e mais tarde em 8. Oito anos de nós. Lembras-te do cheiro da igreja?... Cheirava aos sonhos que já estamos a concretizar.