sexta-feira, 6 de julho de 2012

Ando numa onda meia... meia quê?... não é neura, nada disso, mas tambem não é feliz... Porque quando estou assim euforicamente feliz desato a viver, desato a respirar, a cheirar, a mexer. Mas ultimamente não é isso que sinto, é mais como se estivesse a pairar sobre mim mesma, mais como se estivesse a ver-me feliz lá em baixo, e eu cá em cima, transparente e flutuante, sorrindo com um orgulho de missão cumprida, contemplando.... é isso, ando numa onda contemplativa.
As minhas noites têm sido carregadas de sonhos indecifráveis, com perdas, achados, lágrimas, escuridão e luz. Acordo pesada e exausta, não sei bem o que é, como se tivesse dançado até as 5 da manhã, entornada em gin's e tabaco. Mas não, o mais tardar as 23 já estou ferrada, com creme hidratante espalhado, pijama vestido, roupa para o dia seguinte disposta na comoda.
Venho de comboio e dou por mim sem saber onde estou, porque tudo me distrai e me eleva a imaginação. Porque reparei naquela janela aberta com as cortinas gastas ao vento, e a senhora gorda de roupão de flanela a estender o pano amarelo da loiça. E vejo-lhe a vida toda num lápice, sozinha e rabujenta, furiosa com a sujidão estando ela mesma imunda. Um filho que trabalha nas obras, pai de um a menina mulata que não assume mas visita todos os dias. Um marido doente na cama a precisar dela para respirar, depois de uma vida inteira resolvendo desagrados à chapada,e ela agora suspirando às vizinhas a moleza do senhor, coitado do meu Acácio tão forte que era e agora faço-lhe tudo, num deleite satisfeito com o poder que agora tem, nunca servindo o chá com açucar como o velho gosta.  E lá está ela furiosamente bantendo o pano amarelo e velho da cozinha, porque ontem o filho o deixou no lava-loiças gorduroso e ela odeia ter o pano da cozinha sujo.
Olha, já estou no Rossio.
Está na hora de trabalhar.

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