Tenho de endireitar as costas. Ombros para trás, queixo para
cima.
Eu sou dramática. Sou, é assim mesmo, o meu filho mais velho
sai a mim, se está feliz gargalha com a alma, se fica triste o mundo vem abaixo numa cascata de lágrimas sentidas e pesadas. Eu não choro nem rio dessa forma. Mas
a alma, o que sinto, transborda, é horrível e ótimo. É horrível porque, por ser
assim, não consigo relativizar as coisas, dar-lhes uma dimensão real. Ou
melhor, consigo, mas só depois de passarem.
Sinto-me cansada, tão mas tão cansada. Não durmo, não paro,
corro o dia inteiro, corro a noite inteira. Saio do meu papel de mãe para o de
profissional corro para o de mulher, volto ao de mãe, não paro, transpiro por
dentro, sinto-me tão mas tão cansada. E pior, sinto que nesta correria, deixo tudo
a meio. Não sou boa mãe. Não sou boa mulher. Não sou boa amiga nem se quer boa
profissional. Também não sou má. Mas, foda-se, sinto que não sou boa em nada.
E por isso corro, e corro, fecha a cortina, abre a cortina,
e eu a correr sem nunca chegar a porra de meta nenhuma. De ombro encurvados, física
e moralmente.
Tenho mesmo de endireitar as costas. Ombros para trás,
queixo para cima.
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