sexta-feira, 24 de abril de 2015

Direitos

Aqui no sitio onde trabalho, e uma vez que as coisas estão, digamos, vá, estranhas, têm-se implementado algumas medidas de motivação para compensar a estranheza/falta de promoções/incerteza em relação ao futuro/ pânico/ descrença etc e tal.
A primeira medida foi dar o dia de anos ao colaborador. Um grande clap clap. De seguida, pessoas com filhos até aos 18 anos podem gozar a tarde de anirversário dos filhos. Mais um clap clap? Mais ou menos.
Tenho uma grande amiga antiga, que, lá está, é um poço de incoerências e por isso a amo tanto. Pois que ela, que primeiramente achou tudo muito bonito, quando resolveu dar corda aos neurónios e começar a pensar no assunto, auto intitulou-se de indignada. ESTOU INDIGNADA. Toda e qualquer mãe fica logo assanhada com a falta de sensibilidade desta gente que, não tendo filhos e, por consequência, uma vida totalmente livre, despreocupada e descansada, se indigna com este tipo de medidas exclusivas para pais/mães. Eu primeiro não liguei peva, no fundo toumacagar, acho que sim, eu mereço a merda da tarde para ir comprar smarties e bolos. Mas depois a discussão foi-se estendendo. E eu, mãe de duas criaturas infernais, gozadora de maravilhosas baixas de maternidade e redução de horário até à criança completar um ano de vida, estou com a minha amiga antiga, que ora é comuna, ora é fascista, e acho uma injustiça. Não que as mães gozem as tardes para comprar smarties, ir à depilção, dormir ou mandar uma, mas que aqueles que não gozando baixas, não gozando de reduções de horário, não tendo a restrição normal na disponibilidade por causa dos horários das creches/consultas/reuniões de pais/dias da criança/dia da mãe e o caralho que foda, não tenham também direito a estas "medidas de motivação".
E a discussão foi-se acendendo, mães furiosas, que eu não durmo, que o meu filho te vai pagar a reforma (putadocaralho), que eu saio daqui e sabes lá o inferno do fim de dia que me espera, que os filhos com 15 dias não podem ficar sozinhos. E às tantas, eu, que no fundo, toumacagar para tudo isto, comecei a ficar nervosa. Acho que a minha antiga tem TODA a razão. Não me venham cá dizer que isto é uma medida de apoio à natalidade, não me fodam, não é para ter mais uma tarde por ano para comprar smarties e bolos, que vou desatar a parir para dar de comer à segurança social. Isto é tão somente uma medida de motivação. E sendo uma medida de motivação, quase arrisco a dizer que a minha antiga, com total disponibilidade para a instituição onde trabalha, sem restrições de horários, sem dias de mães/criança/pai e cão, sem baixas infindáveis e regressos desmemoriados e improdutivos, merece muito mais a merda da tarde do que eu. 

Sem comentários:

Enviar um comentário