Aqui no sitio onde trabalho, e uma vez que as coisas estão,
digamos, vá, estranhas, têm-se implementado algumas medidas de motivação para
compensar a estranheza/falta de promoções/incerteza em relação ao futuro/
pânico/ descrença etc e tal.
A primeira medida foi dar o dia de anos ao colaborador. Um
grande clap clap. De seguida, pessoas com filhos até aos 18 anos podem gozar a
tarde de anirversário dos filhos. Mais um clap clap? Mais ou menos.
Tenho uma grande amiga antiga, que, lá está, é um poço de incoerências
e por isso a amo tanto. Pois que ela, que primeiramente achou tudo muito
bonito, quando resolveu dar corda aos neurónios e começar a pensar no assunto,
auto intitulou-se de indignada. ESTOU INDIGNADA. Toda e qualquer mãe fica logo
assanhada com a falta de sensibilidade desta gente que, não tendo filhos e, por
consequência, uma vida totalmente livre, despreocupada e descansada, se indigna
com este tipo de medidas exclusivas para pais/mães. Eu primeiro não liguei
peva, no fundo toumacagar, acho que sim, eu mereço a merda da tarde para ir
comprar smarties e bolos. Mas depois a discussão foi-se estendendo. E eu, mãe
de duas criaturas infernais, gozadora de maravilhosas baixas de maternidade e
redução de horário até à criança completar um ano de vida, estou com a minha
amiga antiga, que ora é comuna, ora é fascista, e acho uma injustiça. Não que
as mães gozem as tardes para comprar smarties, ir à depilção, dormir ou mandar
uma, mas que aqueles que não gozando baixas, não gozando de reduções de
horário, não tendo a restrição normal na disponibilidade por causa dos horários
das creches/consultas/reuniões de pais/dias da criança/dia da mãe e o caralho
que foda, não tenham também direito a estas "medidas de motivação".
E a discussão foi-se acendendo, mães furiosas, que eu não
durmo, que o meu filho te vai pagar a reforma (putadocaralho), que eu saio
daqui e sabes lá o inferno do fim de dia que me espera, que os filhos com 15
dias não podem ficar sozinhos. E às tantas, eu, que no fundo, toumacagar para
tudo isto, comecei a ficar nervosa. Acho que a minha antiga tem TODA a razão.
Não me venham cá dizer que isto é uma medida de apoio à natalidade, não me
fodam, não é para ter mais uma tarde por ano para comprar smarties e bolos, que
vou desatar a parir para dar de comer à segurança social. Isto é tão somente
uma medida de motivação. E sendo uma medida de motivação, quase arrisco a dizer
que a minha antiga, com total disponibilidade para a instituição onde trabalha,
sem restrições de horários, sem dias de mães/criança/pai e cão, sem baixas infindáveis
e regressos desmemoriados e improdutivos, merece muito mais a merda da tarde do
que eu.
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