quarta-feira, 22 de abril de 2015

Escrever até que os dedos me doam, vomitar sílabas, esquecer o nexo, a lógica, deixar vir o que tem de vir, nem sempre é fácil, apalavrar a alma, traduzi-la, é, por si só, um raciocínio, ainda assim, lembrar-me para sempre dos dentinhos separados pela chucha do meu caracóis de sol, a forma como diz os “éxes”, fotografar na memória a gargalhada babada no meu escurinho pequenino, não esquecer o cheiro que eles têm de manhã, dengosos e quentinhos, mistura de leite e fralda, parecendo nojento é bom, reter cá dentro, para sempre, a mão do meu marido, forte e decidida, para mim as mãos são o espelho da alma, na cabecinha pequenina do mais novo, oferecendo-lhe sono na nossa cama às 5 da manhã. Deixar voar para fora de mim as raivas, as desilusões, as coisas tão feias que se ouvem nos telejornais, não sei porquê mas parece que têm mais cola na memória, fica mais difícil esquecer o que eu nem queria saber, uma espécie de um detox, tão chique que é fazer detoxes, mas do coração, beber mais, muito mais, aqueles momentos que são bons. Não me esquecer da temporalidade das coisas. Isso sim é de valor. Porque o que é mau há de passar. O que é bom pode não mais voltar.


E ainda não me doem os dedos…

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