Escrever até que os dedos me doam, vomitar sílabas, esquecer
o nexo, a lógica, deixar vir o que tem de vir, nem sempre é fácil, apalavrar a
alma, traduzi-la, é, por si só, um raciocínio, ainda assim, lembrar-me para
sempre dos dentinhos separados pela chucha do meu caracóis de sol, a forma como
diz os “éxes”, fotografar na memória a gargalhada babada no meu escurinho
pequenino, não esquecer o cheiro que eles têm de manhã, dengosos e quentinhos,
mistura de leite e fralda, parecendo nojento é bom, reter cá dentro, para
sempre, a mão do meu marido, forte e decidida, para mim as mãos são o espelho
da alma, na cabecinha pequenina do mais novo, oferecendo-lhe sono na nossa cama
às 5 da manhã. Deixar voar para fora de mim as raivas, as desilusões, as coisas
tão feias que se ouvem nos telejornais, não sei porquê mas parece que têm mais
cola na memória, fica mais difícil esquecer o que eu nem queria saber, uma
espécie de um detox, tão chique que é fazer detoxes, mas do coração, beber mais,
muito mais, aqueles momentos que são bons. Não me esquecer da temporalidade das
coisas. Isso sim é de valor. Porque o que é mau há de passar. O que é bom pode
não mais voltar.
E ainda não me doem os dedos…
Nem a mim!!! até que os dedos me doam!!
ResponderEliminarMuito bom...e tão verdade!
Beijinhos
Terapia da escrita para selar promessas! :)
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